No próximo dia 9, das 19h às 21h, a Fundação Iberê Camargo inaugura a exposição Iberê Camargo e o ambiente cultural brasileiro do pós-guerra, nova mostra temporária a ocupar o segundo e o terceiro andares da sede da instituição. Com a produção abstracionista de Iberê, iniciada em 1959, como centro do projeto curatorial, o objetivo principal da exposição não é examiná-la em profundidade: antes, o curador e crítico de arte Fernando Cocchiarale buscou reunir um conjunto de 133 obras capaz de criar um panorama das tendências artísticas observadas no Brasil a partir da década de 1950. Assim, além do próprio Iberê estão na exposição trabalhos de outros 23 artistas: Alfredo Volpi, Aluisio Carvão, Amílcar de Castro, Anna Bella Geiger, Antonio Bandeira, Arthur Piza, Décio Vieira, Edith Behring, Fayga Ostrower, Hélio Oiticica, Hércules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Ione Saldanha, Ivan Serpa, Judith Lauand, Luiz Sacilotto, Lygia Clark, Lygia Pape, Manabu Mabe, Maria Bonomi, Maria Leontina, Milton Dacosta, Waldemar Cordeiro e Willys de Castro.
A produção desses artistas tem como pano de fundo o período imediatamente posterior ao fim da II Guerra Mundial, quando, nas palavras do curador, “a arte moderna brasileira ainda gravitava em torno de questões que não eram própria e exclusivamente artísticas” – diferentes, portanto, do que acontecia no modernismo europeu. “Centrado na denúncia da grave questão social brasileira, o realismo social de esquerda, então hegemônico, restringiu sua radicalidade à esfera temática, sem avançar na revolução plástico-formal levada a cabo pelas vanguardas europeias”, explica Cocchiarale.
No entanto, após o sucesso dos aliados na II Guerra, houve uma grande propagação de ideais democrático-liberais nos países vencedores. Assim, o totalitarismo do Estado Novo de Getúlio Vargas passou a ser questionado, e ocorreu no Brasil uma série de mudanças políticas. Nesse contexto, os artistas emergentes do cenário nacional já não tinham suas atenções voltadas especificamente para os problemas sociais do país. Ao invés disso, a nova geração que surgia nas duas maiores cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, direcionou sua atenção para aspectos essencialmente formalistas, defendendo uma abordagem estética que fosse livre de associações com as formas existentes na natureza. Mas este processo não se deu apenas no âmbito coletivo: alguns artistas de trajetórias solitárias, como era o caso de Iberê Camargo, também deixaram progressivamente de lado o figurativismo em busca de novas possibilidades expressivas.
Portanto, o objetivo da exposição é mostrar ao público a transformação conceitual pela qual a arte brasileira passou entre as décadas de 1950 e 1970. Embora as obras da mostra revelem o caráter heterogêneo da produção do período, é possível apontar duas correntes principais: a dos concretistas, que projetavam sua obra racionalmente e a priori, e a dos abstracionistas, cujo trabalho final era determinado predominantemente durante o processo de execução. Para Cocchiarale, a identificação de cada um dos artistas com um destes dois grupos é determinante para que se compreenda a produção da época. “Informar ao público sobre o modo com o qual trabalhavam tornou-se essencial à estratégia do texto crítico. E esse encontro do ‘eu’, de caráter individual, com a história, de caráter coletivo, talvez tenha sido o único pressuposto estético e ético da abstração informal, embora fundado, paradoxalmente, na consciência eminentemente individual que eles tinham a respeito de seus processos de criação”, ele justifica.
Iberê Camargo e o ambiente cultural brasileira do pós-guerra pode ser visitada de 10 de junho a 28 de agosto, de terça a domingo, das 12h às 19h (nas quintas, até as 21h). A Fundação Iberê Camargo fica na Av. Padre Cacique, 2000. A entrada é franca.
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