quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Arte de Amadurecer

O tempo que nos é permitido viver é uma compensação divina. Retrucamos dando pouca importância, desperdiçando-o ao vivê-lo ansiosamente, esperando, feito velhas ampulhetas condenadas à escuridão do armário, a sua passagem, enquanto lá fora o sol brilha para todos. À vida e ao tempo que passa com ela só o que vale é a essência, garimpada gentilmente num passado de alegrias e de tristezas, onde preciosas experiências são guardadas no graal pulsante, transformando assim, futuros medos em desafios. E o que há de concreto: o sentimento guardado, as emoções transformadas em fortalezas para os combates. Porque literalmente o concreto é mera ilusão, cujo tempo faz oxidar o seu valor. Na efemeridade dos nossos sonhos, quantos deles, sofridos enganos, andamos cambaleantes pelo caminho do não. E no final deste caminho está o destino, a morada da fé, onde podemos ver o quanto é precioso viver de opinião própria, pois assim construímos a nossa própria estrada, fortalecidos não só de emoções, como de razões, seguindo o ritmo natural como o é a própria vida. Esse novo caminho, página branca, que para muitos se chama velhice, é apenas um passo para o despertar do novo. Isso, se agirmos com inteligência. Doença ou morte é natural, o que não é natural é vivermos em função ou em busca delas. Caprichosamente a velhice remete a sabedoria e com ela aprendemos a viver e a conviver com as coisas e com as emoções de forma calma, contemplando uma noite de luar, deliciando-se com um prato gostoso e saudável, sentindo o sumo da vida ali, colhendo novos amigos num curso de pintura ou de inglês. Fazendo da hora do chá o encontro com o seu Deus, dividindo o momento com o louvor. Ou derretendo-se de rir na lanchonete com amigos entre uma lambida e outra de sorvete. Conversando amigavelmente com o seu médico, o seu amigo confidente. Rindo do que é e do que foi, os dois, cúmplices de uma vida de pequenos delitos e de amores, coração partido, cardiologista amigo, rs... O andar já não é mais rápido, nem os reflexos ou visão. A pele perdeu o viço. Mas quanto realmente é o nosso tempo se é a vivência, a imperiosa manifestação da sedução, que sabe combinar um bom papo com o vestido elegante numa mesa de café às três da tarde com aquele amigo, por exemplo. Deliciosamente, a sabedoria que a vida bem vivida traz, traz-nos cultura que abre-alas para novas formas-pensamento, alquimia segura para, com honradez, sermos bem quistos em qualquer roda de conversa, pois você que carrega uma bagagem de palavras e de idéias, sabe viver. Palavras não são estáticas, são elásticas! É com o diploma da sabedoria nas mãos, é que podemos envelhecer de cabeça erguida, pois temos dons espirituais e de compreensão que, mesmo aos olhos de alguns, sejamos seres “invisíveis”, estamos ali, existindo, melhor, vivendo, melhor ainda, vivendo bem por se amar. E, se amando, pode-se amar colocando em prática a poesia adormecida que estava enterrada junto com o falso conceito da velha idade. Da juventude, você já herdou a teima e a vontade natural, teima de persistir quando achar que deve, vontade natural de deixar fluir a coisa, sem compromisso oficial com o amor, porque este vem apenas naturalmente. Saber viver é viver naturalmente. Todos erramos e os erros não são os monstros que devemos carregar na bagagem das nossas memórias. A vida possui uma gama de escolhas e se erramos, merecemos também aprender com os erros, são os nossos mestres, algo de aprendizado ficou. Escolhermos viver remoendo os erros ou aprender com eles, também é questão da sabedoria. Sempre tentamos o que achamos melhor para nós, isso é viver, agir. Saber viver é também ser relativo, no elixir perfeito. A experiência da vida consiste num caminho interessante, muitas vezes passamos por ela como expectadores de grandes sucessos alcançados por nossos parentes e amigos. Congratulá-los do fundo do coração é uma vitória que conquistamos para nós mesmos, virtude inquestionável. Mas há também o nosso sucesso.Este compreende num caminho comprido onde a fé e a auto-confiança são ingredientes básicos para que a dura jornada seja completada e os louros do triunfo sejam todos nossos. Sem auto-confiança não há progresso pessoal. E por falar em experiência, falemos do humor, essa ironia delicada e alegre. Isso é uma capacidade que todos podemos desenvolver, rirmos dos nossos próprios embaraços, fazermos da questão elemento de riso. Divertir até mesmo sozinho, conversando consigo. Porque rir não é um processo final, é uma conquista diária, são pequenas doses de humor, sem maldades, pelo simples fato de soltar o anjo do riso de nós e deixá-lo inebriar o ambiente. Isso não tem preço, tem vitalidade. Enfim, o nosso mundo é inserido num cosmos misterioso, e as nossas experiências, tão doloridas às vezes, não podem ser desculpas para uma vida amarga. Para tudo há um desfecho pleno, basta se ver num palco você enquanto personagem, maneira boa de ver os ínterins e entender algumas coisas. Bagunçamos nossa vida por subjetivarmos demais enquanto as oportunidades da meia-idade são milhares, mostrando-nos realmente que há todo um mundo a ser explorado, com o aval da sabedoria, pois esta é lupa gritante para os falsos nãos. 
 
Livro de  Autor : Véronique Vienne





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