quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Árvore da Vida - Um Monumento à Vida

O grande feito deste “A Árvore da Vida” é lidar com temas existenciais sem alienar religiosos ou ateus. Escrito e dirigido por Terrence Malick, o longa retrata quão magnífica e terrível a vida pode ser, fazendo isso em diversos níveis.
O mais presente deles é a luta interna de seu personagem central, Jack (Sean Penn), amargurado filho de um casal com ideologias completamente diferentes. A trágica morte do irmão mais jovem do protagonista, aos 19 anos, marcou aquela família para sempre, com este trauma ainda se fazendo presente muitos anos depois.
A escala da história contada por Malick é inacreditável, indo desde o Big Bang até os dias atuais. O cineasta cria uma narrativa única através de uma montagem não-linear. Algumas das elipses presentes em determinado ponto da produção avançam em centenas de milhares de anos, remetendo diretamente a “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick, cujo estilo cinematográfico é referenciado por diversas vezes durante a projeção, inclusive de modo bastante gráfico em uma determinada tomada.
As lacunas presentes na produção devem ser preenchidas pelas próprias experiências do público, com este sendo confrontado e desafiado por questionamentos a cada momento, com o longa nunca apresentando respostas fáceis. Estaria o milagre da vida nos magníficos e aterrorizantes eventos que fizeram com que seres tão diferentes existam em nosso mundo ou escondido nas nossas interações com o meio e com nós mesmos? E como aceitar a existência de um Deus que nos interpõe tantos dissabores e dificuldades?
Dentre tantas perguntas, Malick parece ter uma certeza: a capacidade de amar e de se assombrar da humanidade é o que define a beleza e a razão da existência desta. Destarte, seriam os percalços e destruições que ocorrem durante nosso período nesta esfera azul o preço a pagar por tais maravilhas, uma parte inerente da incrível aventura que é viver?
Nada retratado nos contemplativos e longos planos estabelecidos pelo diretor é por acaso, com a menção explícita ao livro de Jó se mostrando precisa. Aceitar acontecimentos negativos se torna difícil para aqueles que, instintivamente, visam uma noção egoísta de bem estar.
Neste ponto, surge o conflito entre a Mãe (Jessica Chastain) e o Pai (Brad Pitt) de Jack. Fincando este ponto da narrativa nos anos 1950 – a era do self-made men americano -, presenciamos o crescimento do pequeno Jack (Hunter McCracken), seu amor pelo irmão fadado à morte e sua evolução de criança inocente até o adulto sem alegria que vimos ao encontrá-lo pela primeira vez. As performances que o diretor extrai do elenco, principalmente do trio Pitt, Chastain e McCracken, são absolutamente arrebatadoras, com a dinâmica familiar sendo extremamente beneficiada pela química entre os atores.
A forma autoritária e dura com a qual Jack e seus irmãos são tratados pelo austero Pai esconde um amor palpável e um desejo de que seus filhos consigam ser donos de si mesmos, de suas existências, de seus sonhos. Tal ponto de vista é contrastado pelo carinho incondicional que os garotos recebem da Mãe, que absorve as dificuldades da vida de forma aparentemente passiva, sem entrar em conflito direto com seu esposo, jamais traindo sua natureza abnegada e bondosa, dotada de uma compaixão que lhe vem sem esforço.
O Pai é visto como uma figura relativamente ausente e, ao aparecer, notamos primariamente suas características menos agradáveis, com até mesmo sua paixão pela música se tornando uma fonte de ressentimento. Mesmo assim, o público jamais sente antipatia pela figura paterna exatamente por ser tangível o amor que este sente por seus filhos, ainda que o sentimento se manifeste de formas pouco carinhosas e nada complacentes. Notem que ele trabalha em uma fábrica, sempre lidando com elementos artificiais. Dono de várias patentes, o longa ressalta que o Pai é um inventor, um criador, deixando bastante clara esta metáfora em relação a Deus.
Enquanto isso, a Mãe é enquadrada por uma viés acolhedor, sempre em comunhão com seu meio, seja no seio do lar ou no verde da grama sobre a qual pisa com seus pés descalços. Suas interações com os filhos ocorrem de maneira leve, descontraída, com ela sempre banhada em uma luz que aparenta ser quente e acolhedora, tal como sua personalidade, dando-lhe um ar quase etéreo.
Mãe e Pai são vistos quase como partes de uma espécie de “santíssima trindade” para Jack que, aos poucos, vai conhecendo mais sobre si mesmo. Desta noção, há um novo questionamento: Pai, o pequeno Jack e Mãe representariam “Pai, Filho e Espírito Santo” ou  ”Superego, Ego e Id” para o protagonista? Repare que, a despeito do Jack adulto ser a alma conflituosa que nos leva nesta jornada, é pelo ponto de vista de sua versão jovem que enxergamos a lide interior do personagem, até a sua catarse final.
Contando com uma fotografia irretocável, ótimos efeitos especiais e embalado pela belíssima trilha sonora de Alexandre Desplat (reforçada por composições clássicas, tais como “Vltava”, de Bedřich Smetana), “A Árvore da Vida” é uma obra repleta de simbolismos e significados. Trata-se não apenas de um filme, mas do poderoso retrato de um artista sobre a própria natureza da vida. 




FONTE: Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Encontros e Desencontros


O filme foi totalmente rodado em Tóquio, uma alucinação em néon cravada na Terra do Sol Nascente. Uma nação de contrastes, onde tradição, ocidentalização e exageros convivem lado a lado. Bob Harris (Bill Murray) está lá para gravar uma propaganda de uísque, aproveitando seu restinho de fama como ator, badaladíssimo nos anos 70. Charlotte (Scarlett Johansson) acompanha o marido, um famoso fotógrafo de celebridades que está trabalhando com a imagem de uma banda de rock local.

Ambos estão milhares de quilômetros longe de casa, tristes, e nenhum dos dois consegue dormir com o fuso horário de 24 horas. Mais do que isso, não encontram suas próprias identidades. O problema, claro, não é o Japão. A história poderia ter sido rodada em Berlim, Madagascar ou São Paulo. Se, num primeiro momento, o filme parece o retrato fiel de uma cultura local, logo percebemos que Sofia Coppola faz a crônica da impessoalidade de um planeta globalizado.

Inicialmente, a insônia é o pretexto para as conversas de Bob e Charlotte, já que eles frequentemente encontram-se por acaso no bar do hotel em que estão hospedados. Em pouco tempo, porém, os novos amigos já estão circulando juntos pela exótica cidade. O começo pode até parecer algo saído de uma comédia romântica, mas Encontros e desencontros
 está longe de poder ser classificado assim. É uma história de amor, sem romance.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

24 Anos sem Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

Itabira do Mato Dentro (Itabira) MG
31/02/1902 - 17/08/1987


Época:
Modernismo (Segunda Geração)

 
Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato Dentro [Itabira] MG, 1902 - Rio de Janeiro RJ, 1987) formou-se em Farmácia, em 1925; no mesmo ano, fundava, com Emílio Moura e outros escritores mineiros, o periódico modernista A Revista. Em 1934 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde assumiu o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde, que ocuparia até 1945. Durante esse período, colaborou, como jornalista literário, para vários periódicos, principalmente o Correio da Manhã. Nos anos de 1950, passaria a dedicar-se cada vez mais integralmente à produção literária, publicando poesia, contos, crônicas, literatura infantil e traduções. Entre suas principais obras poéticas estão os livros Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940), A Rosa do Povo (1945), Claro Enigma (1951), Poemas (1959), Lição de Coisas (1962), Boitempo (1968), Corpo (1984), além dos póstumos Poesia Errante (1988), Poesia e Prosa (1992) e Farewell (1996). Drummond produziu uma das obras mais significativas da poesia brasileira do século XX. Forte criador de imagens, sua obra tematiza a vida e os acontecimentos do mundo a partir dos problemas pessoais, em versos que ora focalizam o indivíduo, a terra natal, a família e os amigos, ora os embates sociais, o questionamento da existência, e a própria poesia. 

Alguns Poemas:

As sem razões do amor 
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Quadrilha 
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.




Destruição 
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

 

Amy Winehouse - CLIPES OFICIAIS

 
 Back to Black

 
Love Is A Losing Game

 Rehab

 In My Bed 

 
 Just Friends

 You Know I'm No Good 
 
 
Stronger Than Me

 
Tears Dry On Their Own 


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

34 Anos da Morte de Elvis Presley

 Suspicious Mind

Elvis Aaron Presley nasceu sob circunstâncias muito pobres, em uma humilde casa na cidade de East Tupelo (East Tupelo seria agregada mais tarde à cidade de Tupelo, formando assim uma única cidade), Estado do Mississippi, no dia 8 de Janeiro de 1935 às 04h35h.
Elvis foi o sobrevivente de um difícil parto de gêmeos, aonde seu irmão idêntico Jesse Garon foi natimorto. Depois deste traumático parto, Gladys não pôde mais engravidar e ter filhos. Elvis viria a ser então o único filho do casal Gladys e Vernon.
Desde cedo, a mãe incutiu na cabeça do filho que quando um de dois gêmeos morre, o que sobrevive herda toda a força do que se foi. No respeito à crença da mãe, Elvis adotou a personalidade dos dois. Por outro lado, Elvis sempre acreditou que poderia se comunicar com seu irmão Jesse – e assim pensava fazê-lo (ou realmente o fez!) durante várias ocasiões até seus últimos dias de vida. Não raro, quando criança, Elvis ia até o pequeno túmulo de Jesse Garon em um cemitério de Tupelo e ficava ali sentado por horas “conversando” com seu irmão. Às vezes Elvis ia até um lago vizinho ao cemitério e conversava com seu reflexo, como se fosse com o próprio irmão.
Na verdade, Elvis foi uma criança muito solitária.
Na pequena cidade do interior dos EUA, ele aprendeu com a mãe e o pai a ser respeitoso sob todos os aspectos, independentemente da idade, origem étnica, sexual e/ou sócio-econômico-financeiros envolvidos.
Além da derrocada financeira de 1929 com a quebra da Bolsa de NY, que assolou o país - em seus primeiros anos de vida, Elvis cresceu em meio aos destroços de um furacão que devastou sua cidade no dia 5 de abril de 1936.
Esse triste fato ocasionou uma união entre brancos e negros, que deixaram de lado por algum tempo o conflito racial, tudo em prol da reconstrução da cidade. Vale lembrar que o Estado do Mississipi na época era o centro do racismo americano.
Em parte de sua primeira infância, Elvis esteve privado da figura de seu pai, preso em 1937, juntamente com o irmão de Gladys, por estelionato.
Somando-se a isso, a família foi despejada de sua moradia. Gladys e Elvis tiveram que se mudar e foram morar com os pais de Vernon por algum tempo. Vernon seria libertado no ano de 1941.
O vínculo entre filho e mãe a esta altura era algo muito forte e que fazia com que Elvis e Gladys fossem muito apegados um ao outro. Elvis tinha um amor incondicional por sua mãe. A morte precoce de sua mãe em 1958 o afetaria pelo resto de seus dias.
Desde seus primeiros anos de vida, Gladys e Vernon levavam o pequeno Elvis a freqüentar a Igreja da Assembléia de Deus – o que influenciou muito em sua formação pessoal e musical também.
Em 1945, aos 10 anos de idade, Elvis participou de um concurso de novos talentos na "Feira Mississippi-Alabama" que acontecia em Tupelo - e conquistou o segundo lugar, ganhando 5 dólares, mais ingressos para todas as diversões. Elvis, na ocasião, cantou “Old Shep”, canção que retrata o desespero de um menino pela perda de seu cão.
Em seu aniversário em Janeiro de 1946, Elvis desejava muito ganhar uma bicicleta, mas seus pais infelizmente não tinham recursos para comprá-la. Sua mãe então o convenceu a ganhar um violão ao invés da bicicleta – e este violão passou a ser sua companhia constante, inclusive na escola.
Elvis e a família se mudaram para Memphis, no Estado do Tennessee no dia 12 de setembro de 1948 em busca de uma vida mais promissora dentro de suas poucas condições. Ainda assim, a Família Presley morou por um bom tempo em condições precárias.
No período de 1948 até 1954, Elvis trabalhou em várias atividades – entre elas, lanterninha de cinema e motorista de caminhão – para ajudar no sustento da pequena família. Seus pais estavam sempre em constante atividade de trabalho, mas os recursos eram realmente escassos.
Apesar de tantas adversidades, todo o zelo e dedicação de sua mãe foram recompensados: Elvis concluiu seus estudos em 1953 pela Humes High School em Memphis.
Nas horas vagas, Elvis cantava e tocava seu violão e, eventualmente, arriscava alguns acordes ao piano. Elvis comprava suas roupas em lojas na Beale Street e já nestes anos, era conhecido como um jovem “diferente” dos de sua época, pelo estilo único que ele adotara: roupas excêntricas (como as dos negros) e cabelos mais longos para os padrões da época e costeletas.
Suas influências musicais foram tão mistas quanto era o seu talento: Elvis era muito ligado ao “pop’ da época (particularmente Dean Martin); à música country; à música gospel ouvida na igreja; ao R&B capturado na histórica "Beale Street" em Memphis - além de seu grande apreço pela música erudita - particularmente a ópera. Um de seus maiores ídolos era o tenor Mario Lanza e, naturalmente, cantores gospel como J.D. Sumner, seu preferido. Por coincidência anos mais tarde, JD Sumner e seu quarteto “The Stamps Quartet” viria a trabalhar com Elvis – e J.D. tornar-se-ia um de seus maiores amigos e confidentes, por quem Elvis teria um carinho e respeito como se J.D. fosse seu segundo pai.

A Morte de Elvis

Na noite de 15 de Agosto Elvis vai ao dentista por volta das 11 da noite, algo muito comum para ele. De madrugada ele volta a Graceland, joga um pouco de tênis e toca algumas canções ao piano, indo dormir por volta das quatro ou cinco horas da manhã do dia 16. Por volta das 10 horas Elvis teria levantado para ler no banheiro, segundo relatou Ginger Alden, que estava em sua companhia nesta noite.
O que aconteceu entre este horário até por volta das duas horas da tarde – horário em que Elvis foi encontrado por Ginger caído ao chão do banheiro - é um mistério. Ginger interfona para o andar de baixo da mansão e pede por socorro. Joe Esposito e Al Strada sobem correndo até a suíte. Mas ao virar o corpo de Elvis, Joe já sabia que era tarde demais. Elvis já estava morto. Vernon não acreditava que isso poderia ser verdade e insistiu para que Elvis fosse urgentemente removido para o Hospital. Seu médico particular, Dr. George Nichopoulos foi chamado às pressas e chegou à Graceland junto com a ambulância do Baptist Hospital que viera buscar Elvis. Embarcou na mesma ambulância na tentativa de fazer Elvis reviver através de vários procedimentos de ressuscitação entre Graceland e depois da chegada ao Hospital. Uma incrédula Lisa presencia toda aquela comoção sem entender muito bem o que estava de fato acontecendo com o seu pai – e em completo estado de choque, a primeira pessoa para quem ela telefona é Linda Thompson, que a esta altura residia em Los Angeles. Linda se emociona até os dias de hoje quando relembra este fatídico telefonema e sua tentativa de acalmar à distância, a filha de Elvis que chorava desesperada e repetia sem parar: “meu pai morreu, Linda, meu pai morreu!”.
À s 15:30hs do dia 16 de Agosto de 1977, Elvis Aron Presley foi declarado morto. Segundo laudos médicos, sua morte ocorreu provavelmente no final da manhã do dia 16, ali mesmo no banheiro de sua suíte em Graceland, na cidade de Memphis, no Tennessee, causada por colapso fulminante associado à disfunção cardíaca. Sua morte tão precoce surpreendeu o mundo, provocando comoção como poucas vezes fora vista em nossa cultura - inclusive no Brasil. Os fãs se aglomeravam aos milhares em frente à mansão. As linhas telefônicas de Memphis estavam tão congestionadas que a companhia telefônica pediu aos residentes para não usarem o telefone a não ser em caso de emergência. As floriculturas venderam todas as flores em estoque. Mais flores foram enviadas então, de outros estados americanos, para dar conta das infindáveis encomendas de arranjos florais.
Um devastado e apático Vernon pediu ao amigo J.D.Sumner que preparasse todos os detalhes do velório e enterro de seu filho, pois sabia que, pela proximidade que unia Elvis à J.D., certamente ele saberia o que agradaria ou não ao seu filho.
As companhias aéreas não tinham mais passagens disponíveis para Memphis. Os vôos saíam lotados de todas as partes dos Estados Unidos, por fãs que queriam prestar sua última homenagem a Elvis. Amigos e pessoas próximas a Elvis ligavam para Graceland e eram solicitados a evitarem comparecer no velório porque a situação era limítrofe.
O velório começou de forma privada na madrugada do dia 17, perdurando por todo o dia. A comoção do lado de fora de Graceland era enorme. Devido ao intenso calor do verão em Memphis e as circunstâncias em si, muitas pessoas passavam mal, desmaiavam e tinham que ser atendidas ali mesmo nos gramados da mansão. Vernon decidiu permitir que o velório fosse aberto aos fãs por um período de 4 horas aproximadamente, de forma que centenas dentre os milhares de fãs que ali estavam, organizaram-se em fila e puderam ver o seu eterno ídolo pela última vez.
Por volta das três da tarde do dia 18 de Agosto, a cerimônia para familiares e amigos mais próximos foi realizada, com canções gospel sendo cantadas pelos "Stamps Quartet" e por Kathy Westmoreland - ambos parte do grupo musical de Elvis na década de 70. Após a cerimônia todos foram levados até o cemitério em uma lenta procissão entre Graceland e o cemitério Forest Hill aonde o corpo de Elvis seria sepultado. Este cemitério fica na mesma Avenida de Graceland - Elvis Presley Boulevard – e é aonde já se encontrava sepultada sua mãe Gladys, desde 1958.
Algumas semanas após o sepultamento, houve uma tentativa por parte de três marginais de arrombarem o túmulo de Elvis para seqüestrar seu corpo e pedir resgate pelo mesmo. Felizmente tal fato foi evitado e os criminosos presos em tempo. Em função deste episódio, Vernon entrou com um pedido junto à Prefeitura de Memphis para que o corpo de seu filho pudesse ser removido do Cemitério para ser sepultado no “Meditation Garden”, espaço criado por Elvis nos anos 60 na propriedade de Graceland. Após muita polêmica, foi concedida em caráter excepcional tal permissão e em 02 de outubro de 1977 o corpo de Elvis retornaria a sua eterna morada: Graceland. O corpo de sua mãe Gladys também foi transferido de Forest Hill para o Meditation Garden e atualmente neste mesmo espaço, descansam Vernon, falecido em 1979, e a avó de Elvis, Minnie Mãe, que faleceu em 1980. Uma placa simbólica também foi colocada em memória de Jesse Garon, o irmão gêmeo natimorto de Elvis.
Mas para os fãs e apreciadores do artista que virou um ícone, a morte física de Elvis pouco importa. E para seus admiradores, enquanto houver desejo e emoção, Elvis Presley viverá.
Para se ter uma idéia, até Agosto de 1977, Elvis vendera 600 milhões de discos, entre 150 álbuns e “singles” lançados no decorrer de sua carreira. Atualmente sabe-se que este número supera a marca de um bilhão de exemplares - superior a qualquer outro artista, recorde absoluto, coroado com centenas de discos de ouro, platina e, mais recentemente, multi-platina.
Entre seus muitos prêmios, estão 14 indicações ao Grammy, com três premiações justíssimas principalmente se considerarmos os prêmios anteriormente não outorgados, possivelmente, por preconceito ao artista polêmico e revolucionário que Elvis foi. E segundo alguns, porque Elvis Presley foi um artista popular, um sujeito - desde sempre - à frente do seu tempo, inserido em uma engrenagem “sócio-histórico-cultural” bastante complexa.
• 1967 - Melhor Performance de Música Sacra - How Great Thou Art
• 1972 - Melhor Interpretação Inspirativa - He Touched Me
• 1974 - Melhor Interpretação Inspirativa - How Great Thou Art - do álbum "Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis"
Elvis fora durante toda a sua vida um ser místico ao extremo e a verdade é que as crenças do cantor eram tão reais para si mesmo, que curiosamente, os três Grammy’s arrebatados em sua carreira foram no gênero da música sacra, onde reconhecidamente ele passava todo o verdadeiro sentimento do homem, somado à técnica do artista.
E mais onze indicações:
• 1959 - Gravação do Ano - A Fool Such As I
• 1959 - Melhor Performance - A Big Hunk O’Love
• 1959 - Melhor Performance Rhythm & Blues - A Big Hunk O’Love
• 1960 - Gravação do Ano - Are You Lonesome Tonight?
• 1960 - Melhor Performance Vocal - Are You Lonesome Tonight?
• 1960 - Melhor Performance de um Artista Pop Solo - Are You Lonesome Tonight?
• 1960 - Melhor Álbum Masculino - G.I. Blues
• 1960 - Melhor Álbum de Trilha Sonora - G.I. Blues
• 1961 - Melhor Álbum de Trilha Sonora - Blue Hawaii
• 1968 - Melhor Performance Sacra - You'll Never Walk Alone
• 1978 - Melhor Performance Vocal Country - Softly As I Leave You


ADELE...Muito Bom


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sapho de Lesbos

Safo, Versos Mortais

Por volta de 612 a.c. Ilha de Lesbos / Grécia 






















































































































































































Safo, a maior poetisa lírica da Antigüidade é, provavelmente, também a primeira mulher a fazer poesia importante na história da cultura ocidental. Nasceu na ilha grega de Lesbos, por volta do ano de 612 a.C.

Pouco se sabe ao certo sobre esta mulher notável. Alguns a têm imaginado de uma beleza escultórica exuberante. Outros, como não muito bonita. Mas todos concordam que possuía um atrativo pessoal formidável e que, com seus belos olhos pretos, poderia até domar feras! Não é só esta, entretanto, a razão de sua fama. Filha de família rica, deixou cedo sua pequena cidade natal de Eresso, próxima à capital de Lesbos, Mitilene, onde estudou dança, retórica e poética, o que era, então, permitido só a mulheres da aristocracia. Mesmo de origem nobre, a bem pouco podia aspirar uma mulher nessa época fora dos trabalhos domésticos rotineiros. Mas Safo... era Safo! Uma mulher de fogo! Muito jovem já possuía grande notoriedade devido mais a seus encantos pessoais do que à sua arte. Ela mesma dizia ter "cabecinha oca" e "coração infantil", tinha uma conduta libertada de preconceitos e inibições.


Nessa época, Lesbos era governada pelo ditador Pítaco (o mesmo que seria depois incluído na lista dos Sete Sábios da Grécia). Safo, acusada de participar de uma conjuração contra o ditador, acabou sendo exilada na cidade de Pirra. A acusação foi, provavelmente, devido mais à moralidade de Pítaco (característica bastante comum entre os ditadores) do que à política, pois, de fato, Safo nunca dedicou-se à política. Nessa época de juventude, brilhava em Lesbos o jovem poeta Alceu, que pretendeu namorar Safo, sem sucesso. Por que não? Naturalmente essas coisas não têm explicação, mas poetisas não se casam com poetas. Fez-se famosa a resposta de Safo à carta amorosa de Alceu, em que este lamentava-se de que o pudor não lhe permitia dizer o que sentia: "Se tuas intenções, Alceu, fossem puras e nobres, e tua fala capaz de exprimi-las, o pudor não seria bastante a reprimi-las". Mas as falas sobre pudor, tanto de Alceu como de Safo são completamente hipócritas, pura literatura destinada ao público: nem Safo nem Alceu possuíam o menor recato!


Também Alceu foi exilado por Pítaco junto com muitos outros patrícios. Na sua geração, ele teria sido o maior poeta não fosse pela sua contemporânea Safo.


Ao seu retorno de Pirra, Safo não demorou a ser exilada de novo, desta vez na Sicília. Ali conheceu um riquíssimo industrial e, como as atuais divas se casam com milionários, Safo casou-se com ele. Este poderoso industrial cumpriu duplamente seus deveres de esposo com Safo, dando-lhe uma filha e, pouco depois, deixando-a viúva e rica.


Na sua volta a Lesbos, Safo diria: "necessito do luxo como do sol." Mas não permaneceu muito tempo na ociosidade e fundou um colégio para meninas da alta sociedade de Mitilene. Ali as instruía em música, poesia e dança, e as chamava de heteras, ou melhor, hetairas, que em grego significa companheiras.


Ao que parece, Safo era incomparável e inspirada mestra. Mas também inspirava amor às hetairas e aí Safo era grande mestra. Começaram então os boatos na cidade sobre atos e costumes adotados na grande escola. Sua hetaira favorita, chamada Átis, foi a primeira a ser tirada, iradamente, por seus pais. Tudo se desfez rapidamente e a escola acabou. Para Safo, esse foi um terrível golpe. Sobretudo a perda de Átis, por quem sentia paixão irrefreável. O que foi uma desgraça para Safo foi a faísca inicial que sublimou a sua poesia. Compôs o "Adeus a Átis", considerada até hoje como um dos mais perfeitos versos líricos de todos os tempos, que através dos séculos foi modelo de estilo pela singeleza e sobriedade da forma. Expressões originais de Safo, que chamou Átis de "doce e amargo tormento", foram usadas depois por poetas e namorados através dos séculos.


Segundo a lenda recolhida por Ovídio, na idade madura, Safo voltou a amar os homens. Existem aí duas versões, numa, apaixonada por um marinheiro chamado Faon, que não lhe correspondeu, suicidou-se pulando de um rochedo de Leuca. Na outra, Safo serenamente resignada com a sua sorte - segundo manuscrito achado no Egito - recusa um pedido de casamento: "Se meu peito ainda pudesse dar leite e meu ventre frutificasse, iria sem temor para um novo tálamo. Mas o tempo já gravou demasiadas rugas sobre minha pele e o amor já não me alcança mais com o açoite de suas deliciosas penas."


A moralidade e a hipocrisia têm condenado Safo durante 26 séculos. No século XI, teve a sua maior condenação: toda a sua obra, contida em nove volumes, foi queimada pela Igreja... Só em fins do século XIX dois arqueólogos ingleses descobriram, por acaso, em Oxorinco, sarcófagos envoltos em tiras de pergaminho, numa das quais eram legíveis uns seiscentos versos de Safo. Isso é tudo o que restou dela. Pouco, mas o bastante para confirmar o veredicto dos antigos: Safo foi a maior poetisa lírica da Antigüidade.


Tinha razão Platão quando ensinou: "Dizem que há nove musas, que falta de memória! Esqueceram a décima, Safo de Lesbos." E também tinha razão Sólon (que não era apreciador de poesia, talvez por ser a única atividade do espírito que não conseguiu dominar) quando, depois de ouvir seu neto recitar uma poesia de Safo, exclamou: "Agora poderei morrer em paz!"


Numa linha imortal que sobreviveu ao fogo da Igreja e aos séculos que tudo corroem, Safo disse: "Irremediavelmente, como à noite estrelada segue a rosada aurora, a morte segue todo o ser vivo até que finalmente o alcança..." E depois veio o silêncio, mas, nem o fogo, nem os séculos conseguiram apagar sua voz, nem esquecer seu nome: Safo, a divina hetaira! 

A uma mulher amada
 
Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.  







Psicose Delirante Crônica - Paranoia

Freud entendia a neurose como o resultado de um conflito entre o Ego e o Id, ou seja, entre aquilo que o indivíduo é (ou foi) de fato, com aquilo que ele desejaria prazerosamente ser (ou ter sido), ao passo que a psicose seria o desfecho análogo de um distúrbio entre o Ego e o Mundo.
Patch considera a psicose uma doença mental caracterizada pela distorção do senso de realidade, uma inadequação e falta de harmonia entre o pensamento e a afetividade.
A Psicose Delirante Crônica, que é sinônimo do atual Transtorno Delirante Persistente (CID.10), já foi chamada de Paranoia, muito apropriadamente. De acordo com Kraepelin, a Paranoia é uma entidade clínica caracterizada, essencialmente, pelo desenvolvimento insidioso de um sistema delirante duradouro e inabalável mas, apesar desses Delírios há uma curisosa manutenção da clareza e da ordem do pensamento, da vontade e da ação.
Ao contrário dos esquizofrênicos e doentes cerebrais, onde as ideias delirantes são um tanto desconexas, nesta Psicose Delirante Crônica as ideias se unem num determinado contexto lógico para formar um sistema delirante total, rigidamente estruturado e organizado.
A característica essencial desse Transtorno Delirante Persistente é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos 1 mês. Para o diagnóstico é muito importante que o delírio do Transtorno Delirante Persistente não seja bizarro nem seja desorganizado, ou seja, ele deve ter seu tema e script organizado e compreensível ao ouvinte, embora continue se tratando de uma falsa e absurda crença.
As alucinações não são proeminentes e nem habituais, embora possam existir concomitantemente. Quando existem, a alucinações táteis ou olfativas costumam ser mais frequentes que as visuais e auditivas.
Normalmente o funcionamento social desses pacientes Paranóicos não está prejudicado, apesar da existência do Delírio. A maioria dos pacientes pode parecer normais em seus papéis interpessoais e ocupacionais, entretanto, em alguns o prejuízo ocupacional pode ser substancial e incluir isolamento social. A impressão que se tem é a de uma ilha de delírio num mar de sanidade, portanto, uma espécie de delírio insular.
Um paciente, por exemplo, convencido de que será assassinado por perseguidores implacáveis pode desenvolver isolamento social e abandonar o emprego. Em geral, além do funcionamentos social comprometido, também o relacionamento conjugal pode sofrer prejuízos. Na Esquizofrenia o comprometimento social mais acentuado costuma ser a regra.
Esses Delírios normalmente são interpretativos, egocêntricos, sistematizados e coerentes. Pode ser de prejuízo, de perseguição ou de grandeza, impregnado ou não de tonalidade erótica ou com ideias de invenção ou de reforma. Também é frequente o delírio de ciúme, mais encontradiço nas mulheres. Estas estão sempre se deparando com provas "contundentes" acerca dos muitos relacionamentos sexuais de seus maridos. 

Tipos de psicoses Delirantes Persistentes

A - Tipo Erotomaníaco
Neste caso o delírio habitualmente se refere ao amor romântico idealizado e a união espiritual, mais do que a atração sexual. Acreditam, frequentemente, ser amados por pessoa do sexo oposto que ocupa uma posição de superioridade (ídolos, artistas, autoridades, etc.) mas, pode também ser uma pessoa normal e estranha. 
 
B - Tipo Grandeza
Neste subtipo de Transtorno Delirante Persistente a pessoa é convencida, pelo seu delírio, possuir algum grau de parentesco ou ligação com personalidades importantes ou, quando não, possuir algum grande e irreconhecível talento especial, alguma descoberta importante ou algum dom magistral. Outras vezes acha-se possuidor de grande fortuna.
 
C - Tipo Ciúme
Neste tipo de Paranoia a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade de sua esposa ou amante. Pequenos pedaços de "evidência", como roupas desarranjadas ou manchas nos lençóis podem ser coletados e utilizados para justificar o delírio. O paciente pode tomar medidas extremas para evitar que o companheiro(a) proporcione a infidelidade imaginada, como por exemplo, exigindo uma permanência no lar de forma tirana ou obrigando que nunca saia de casa desacompanhado(a).

D - Tipo Persecutório
É o tipo mais comum entre os paranóicos ou delirantes crônicos. O delírio costuma envolver a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas ou estar sendo alvo de comentários maliciosos.

E - Tipo Somático (Parafrenia)
A Formação Delirante do Tipo Somático, como justifica o nome, caracteriza-se pela ocorrência de variadas formas de delírios somático e, neste caso, com maiores possibilidades de alucinações que outros tipos de Paranoia. Os mais comuns dizem respeito à convicção de que a pessoa emite odores fétidos de sua pele, boca, reto ou vagina, de que a pessoa está infestada por insetos na pele ou dentro dela, esdrúxulos parasitas internos, deformações de certas partes do corpo ou órgãos que não funcionam.

3 - Psicose Reativa Breve (Transtorno Psicótico Transitório)
A Psicose Reativa Breve se caracteriza pelo aparecimento abrupto dos sintomas psicóticos sem a existência de sintomas pré-mórbidos e, habitualmente, seguindo-se à um estressor psicossocial. Os sinais e sintomas clínicos são similares àqueles vistos em outros distúrbios psicóticos, como na Esquizofrenia e nos Transtornos Afetivos com Sintomas Psicóticos. O prognóstico é bom e a persistência de sintomas residuais não ocorre. Durante o surto observa-se incoerência e acentuado afrouxamento das associações, delírios, alucinações e comportamento catatônico ou desorganizado. Há componentes afetivos com mudanças bruscas de um afeto para outro, perplexidade e confusão.
A Organização Mundial de Saúde, através da Classificação Internacional de Doenças (CID), recomenda que esta categoria de psicose deve ser restringida ao pequeno grupo de afecções psicóticas, em grande parte ou totalmente atribuídas a uma experiência existencial recente. Deve ser entendida como uma alteração psicótica na qual os fatores ambientais tem a maior influência etiológica.
Trata-se de reações cuja natureza não é só determinada pela situação psicotraumática, mas também pelas predisposições da personalidade. A maioria das reações psíquicas mórbidas desenvolve-se em função de uma perturbação de caráter que predispõe a elas. Tal perturbação será fruto de um desenvolvimento psicorreativo anormal.
O desenvolvimento da Psicose Reativa pode satisfazer a necessidade do paciente em representar, simbolicamente, a si e aos outros através da natureza interna de suas contradições, angústias e paixões, numa espécie de falência aguda de sua capacidade de adaptação a uma situação sofrível.
Deve haver na Psicose Reativa Breve, de uma maneira ou outra, um certo lucro subjetivo na medida em que o paciente vive à margem da realidade traumática e insuportável; transfere seu próprio fracasso para um delírio persecutório, recolhe-se da realidade numa postura autística, nega a existência num estado amnésico e assim por diante. Pode ser de grande alívio a transferência da tonalidade afetiva de um objeto para outro, ou de um complexo de idéias para um outro complexo secundário psiquicamente anárquico, onde as coisas se encaixam numa lógica doentia e fantástica.

Causas
Por definição, de acordo com Kaplan, um estressor vivencial significativo constitui um fator etiológico para este distúrbio, entretanto, melhor seria pensar nestes fatores estressantes mais como desencadeantes do surto psicótico agudo. Portanto, a patologia terá bases tanto biológicas quanto psicológicas. Devem ser enfatizados os mecanismos de relacionamento inadequados e a possibilidade de ganho emocional primário ou secundário com a eclosão do surto agudo. Há hipóteses que a psicose representaria um mecanismo de defesa a um estressor específico.

Sintomas
A característica essencial deste distúrbio é o início súbito dos sintomas psicóticos que persistem por um tempo inferior a um mês, com eventual retorno ao nível pré-mórbido de funcionamento. Os sinais e sintomas clínicos são similares àqueles vistos em outros estados psicóticos, tais como na Esquizofrenia e nos Transtornos Afetivos com Sintomas Psicóticos.
O comportamento pode ser bizarro, com posturas peculiares, trejeitos esquisitos, gritos ou mutismo completo. Frequentemente há significativa desorientação, confusão e distúrbios de memória. Alucinações transitórias, delírios e confabulações podem estar presentes. O quadro é mais freqüente na adolescência e idade adulta jovem.
São freqüentes, também, as modificações rápidas de um afeto intenso para outro, a perplexidade e regressão com atitudes pueris. O comportamento catatônico ou desorganizado é comum e isso pode confundir com os casos de simulação, Síndrome de Ganser ou mesmo histeria.

Curso e Prognóstico
Não existem sintomas prodrômicos anteriores ao estressor desencadeante, embora possam existir traços de personalidade sugestivos de algum distúrbio prévio. O aparecimento da sintomatologia segue o estressor em poucas horas, não duram mais de um mês e a depressão posterior é freqüente.

Aspectos de bom prognósticos

Boa adaptação emocional pré-mórbida (antes do surto)
Poucos traços Esquizóides de personalidade pré-mórbidos
Grave estressor emocional precipitante
Aparecimento agudo e repentino dos sintomas
Sintomas afetivos presentes (depressão, normalmente)
Confusão e perplexidade durante a crise
Pouco empobrecimento afetivo
Curta duração dos sintomas
Ausência de parentes esquizofrênicos
É muito difícil a diferenciação entre a Psicose Reativa Breve e a Depressão Maior com Sintomas Psicóticos. Para tal distinção é fundamental a verificação minuciosa da personalidade pré-mórbida e suas associações com traços depressivos ou esquizóides.
A abordagem antidepressiva medicamentosa consegue resolver grande número de casos, o que nos faz suspeitar do evidente envolvimento afetivo em tais transtornos, ainda que não tenha havido nenhuma manifestação prévia de depressão com nítidas características psicóticas. Teoricamente isso é bem possível, já que a eclosão da Psicose posterior à agressão emocional pode significar uma falência adaptativa às circunstâncias vivenciais, atitude perfeitamente compatível com a dinâmica da depressão.

Black Sabbath - Changes

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Personalidade Boderline

Diversos autores o utilizam o termo borderline, há mais de um século, para se referir a um grupo de pacientes que se caracterizam, basicamente, por apresentar uma alteração na fronteira (ou na borda) entre a neurose e a psicose.
Como acontece sempre em psiquiatria com outros diagnósticos, o termo Transtorno Borderline tem uma longa história, passando por diversos conceitos e denominações ao logo do tempo. A primeira vez que aparece o termo borderline é em 1884. Nesse ano, Hughes (psiquiatra inglês) designa assim aos estados borderline da loucura, definindo assim essas pessoas que passaram toda sua vida de lado a outro da linha da sanidade. Alguns autores da época usavam esse diagnóstico quando havia sintomas neuróticos graves.
Bleuler considerava os pacientes portadores de uma esquizofrenia latente como se fossem estados borderline. Freud, em “O homem dos lobos”, descreve um caso diagnosticado como neurose obsessiva, mas que à luz das investigações atuais e a revisão psicopatológica poderia ser entendido como um caso de patologia borderline.
Henry Claude falava de esquizomanias, Merenciano (Francisco Marco Merenciano, Psicosis Mitis – Los enfermos mentales que consultan al internista) introduz o termo “psicose mitis” para descrever esses pacientes, Wilhelm Reich usa o termo “caráter impulsivo”.      
Em 1927 Franz Alexander classifica os estados borderline dentro do que denomina de “caráter neurótico”, e realmente, na época de Alexander tudo o que parecia fortemente constitucional, irremovível, sabiamente era chamado de problemas de caráter. Stern, em 1938, finalmente formaliza o termo borderline. Refere-se a uma espécie de “hemorragia mental”, desencadeada por grande intolerância à frustração. Os enfermos têm o sentimento permanente de estar magoados, injuriados e feridos emocionalmente.
Em 1947, Melita Schmideberg enfatiza a grande instabilidade desses pacientes, ressaltando ser o traço mais característico a falta de sentimentos normais e o profundo transtorno da pessoalidade. Fenichel utiliza o termo “esquizofrenia marginal”, Hoch e Polatin falam em “esquizofrenia pseudoneurótica” e, na mesma linha, Henri Ey usa o termo esquizoneurose.

Em 1967, Grinker e outros descrevem a síndrome borderline, cujas características seriam:
1. - Sentimento de raiva como afeto único ou essencial;
2. - Anáclise como transtorno nas relações objetais (aderência patológica – veja Depressão Anaclínica);
3. - Ausência de auto-identidade consistente (instabilidade);
4. - Depressão sem sentimento de culpa, sem auto-acusação ou remorso.
Mahler faz uma a classificação evolutiva entre duas apresentações de Borderline:
1. - Estados borderline aparentemente bem adaptados, que geralmente não procuram ajuda especializada;
2. - Síndrome borderline, com sintomas de depressão de abandono, fixação oral e medo ou preocupação obsessiva de abandonado.
Gunderson explora cinco áreas na avaliação do Transtorno Borderline:
1. - A adaptação social: aparentemente sem dificuldades;
2. - Impulsos e ações: atitudes impulsivas, drogadição, álcool, auto-agressão, promiscuidade, bulimia;
3. - Afetividade: depressão, raiva, ansiedade e desespero;
4. - Eventuais surtos psicóticos: normalmente breves, reativos e pouco severos;
5. - Relações interpessoais: não suportam a solidão e o abandono, necessitam do outro em tempo integral, a todo o momento, são francamente dependentes, masoquistas e manipuladores.

Carlos Paz realiza uma experiência psicanalítica no tratamento do transtorno borderline. Encontra:
1. - Transtornos na relação com a realidade, na qual ha alterações grosseiras ainda que transitórias, sem perda do juízo da realidade.
2. - Transtornos do pensamento sob a forma de idéias de referência e paranóia,
3. - Transtornos no controle dos impulsos com explosões de raiva, violência e agressão.
4. - Transtornos da sexualidade com fantasias sexuais sadomasoquistas, atividade masturbatórias com fantasias eróticas perversas, promiscuidade e, eventualmente, impotência.
5. - Presença de ansiedades confusionais;
6. - Vínculo com o terapeuta característico, com viscosidade, aderência e manipulação. Nos casos mais graves esses fenômenos de transferência problemática são bastante primitivos e intensos, chamados por alguns autores de “transferência delirante”, ou ainda de “transferência psicótica.
Há pessoas, simpáticas e agradáveis aos outros, que se comportam de maneira totalmente diferente com as pessoas de sua intimidade. São explosivas, agressivas, intolerantes, irritáveis, com tendência a manipular pessoas.... São pessoas com Transtorno Borderline da Personalidade. Outros conseguem ser desarmônicos dentro e fora do lar; podem ser os Sociopatas.
A patologia borderline, hoje em dia é, sem dúvida, uma problemática psicossocial importante, já que freqüentemente se associam a quadros de drogadição, alcoolismo e violência.
Certos autores comparam ao paciente borderline atual com os histéricos do final do século XIX e princípios do século XX. Consideram as patologias equivalentes e não sem uma boa dose de razão, considerando a histeria dita de caráter.
Uma classificação bastante didática divide o Transtorno Borderline em 4 grupos clínicos:
Grupo A: Borderline com predomínio de características esquizóides e/ou paranóides, mais próxima das psicoses.
Grupo B: Borderline com predomínio de características distímicas e afetivas.
Grupo C: Borderline com predomínio de características anti-sociais e perversas (corresponderiam ao grupo de Transtorno de Pessoalidade Borderline, propriamente dito, satisfazendo quase todos os critérios do DSM IV).
Grupo D: Borderline com predomínio de características neuróticas (obsessivo-compulsivas, histéricas e fóbicas) graves.
Esta classificação tem objetivo mais didático que prático, porquanto na prática cotidiana observamos com maior freqüência a ocorrência de casos mistos.