Em dezembro do ano passado, a garota Stephanie, de 12 anos, morreu num dos hospitais da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo após uma auxiliar de enfermagem se enganar e administrar à paciente, em vez de soro, vaselina, o que acabou por entupir suas veias. Oito meses antes, um piloto alinhou incorretamente o avião na hora de pousar, matando o presidente polonês e mais 94 pessoas em Smolensk, na Rússia. O maior acidente de trem de Los Angeles aconteceu em 2008, quando um engenheiro não percebeu o sinal vermelho e provocou uma colisão que deixou 25 mortos e 135 feridos. Errar, além de humano, é terrivelmente comum. Entre os acidentes de carro em rodovias brasileiras, a maior parte acontece em dias de tempo bom, numa reta e com a pista seca. Nossa vida está cheia de chaves esquecidas, senhas perdidas, cálculos incorretos, trocas de nomes e coisas que estão debaixo do nosso nariz e, ainda assim, não conseguimos encontrar. Sejam erros triviais ou dramáticos, por que não paramos de cometê-los?
Resumidamente, porque somos influenciáveis, excessivamente confiantes e insistimos em fazer várias tarefas ao mesmo tempo. Como se não bastasse, nossos olhos não veem tudo o que está em nossa frente e nossa memória inventa e distorce fatos, afirmam cientistas. Difícil aceitar, em uma sociedade em que as falhas e erros não são bem tolerados e a sensação de estar certo em uma discussão é um deleite. Mas as explicações científicas vão na contramão dessa cultura do acerto. Sim, errar, além de humano, é inevitável. “Temos falhas de design e, ainda por cima, achamos que estamos acima da média”, diz o jornalista norte-americano Joseph Hallinan, vencedor do prêmio Pullitzer e autor do livro Por que cometemos erros?, lançado em 2010. Essas falhas, tão impregnadas em como entendemos o mundo, são parte do nosso aprendizado. Há quatro anos debruçado sobre o assunto, Hallinan é um dos novos adeptos do que começa a ser chamado de “errologia”, ou o estudo dos nossos tropeços. O termo foi cunhado por Kathryn Schulz, autora do livro Being Wrong (a ser lançado no Brasil em maio), no qual faz uma digressão sobre o papel do erro na sociedade. A obra, que atingiu o topo da lista dos livros de não-ficção mais vendidos da livraria on-line Amazon, defende que entender os mecanismos das falhas no traz benefícios. “Os erros representam um motor de inovação. Lidar melhor com eles nos faz aprender mais e ser mais tolerantes”, diz Kathryn.
Em ciência cognitiva, “errando é que se aprende” não é apenas um dito popular. “Os processos que nos levam a aprender e os que nos levam a cometer erros derivam do mesmo recurso mental”, afirma a psicóloga cognitiva Lilian Milnitsky Stein, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e pós-doutoranda na Universidade de Barcelona, na Espanha. Um dos motivos para isso acontecer é que na base do nosso conhecimento está a indução, tipo de aprendizado a partir da repetição de padrões já armazenados em nosso cérebro. Se uma criança vê meia dúzia de vezes um interruptor ser apertado e a luz se acender em seguida, ela gravará em sua mente que aquele tipo de botão serve para acionar a lâmpada, mesmo quando avistar um interruptor diferente do que está acostumada a usar. É uma conclusão precipitada, mas que funciona na maior parte das vezes e agiliza o aprendizado (caso contrário, a cada vez que visse um interruptor novo ela o testaria diversas vezes até entender sua função). O palpite baseado em experiências prévias dispensa essa perda de tempo. Da mesma maneira, você não aprendeu a falar português porque alguém lhe explicou as regras gramaticais quando era bebê, mas porque identificou padrões nas articulações de palavras e passou a replicá-los, ainda que com erros nas primeiras tentativas.
PILOTO AUTOMÁTICO
Conforme esses padrões são apreendidos, não precisamos analisar situações corriqueiras em detalhes. Basta encaixá-las nas generalizações já criadas no cérebro. Um exemplo disso é que deciframos sem muita dificuldade o que está escrito em frases como “NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35”. Você não lê letra por letra, mas procura os padrões de palavras armazenados em sua cabeça e, rapidamente, entende o que deveria estar escrito, e não o que realmente está. Essa forma de lidar com a informação faz com que, mesmo com poucos dados, consigamos deduzir muitas coisas. “Logo que vemos um objeto, tentamos encaixar seus dados preliminares nos protótipos já formados”, explica João de Fernandes Teixeira, Ph.D em ciência cognitiva na Tuffts University, nos Estados Unidos.
O processo quase sempre funciona. Quase. A associação automática pode gerar erros como o da auxiliar de enfermagem da Santa Casa de Misericórdia. Os frascos de soro e de vaselina eram praticamente idênticos, o rótulo da mesma cor e o líquido tem a mesma aparência. “Parece ter sido um caso típico de erro de projeção de padrão. Ela pode realmente ter olhado o frasco errado e percebido o correto em seu cérebro”, diz Fernandes Teixeira, também professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A Santa Casa entendeu isso e, uma semana após a morte da paciente, mandou trocar etiquetas e rótulos de frascos de seus remédios nos 39 hospitais da rede. A assistente de enfermagem, no entanto, foi indiciada por homicídio culposo.
OLHOU MAS NÃO VIU
Esse tipo de falha está longe de ser exceção. Pesquisadores da Clínica Mayo, no Arizona, Estados Unidos, deixaram a comunidade médica em estado de alerta ao estudar, em 1982, exames de raios X antigos de pacientes que desenvolveram câncer de pulmão. O estudo mostrou que, em 90% dos casos, os tumores já eram visíveis antes do diagnóstico, e a falta de identificação fez com que progredissem. O que ocorre é que, como na maioria dos casos a radiografia não mostra evidências da doença, o padrão de raio X “saudável” pode ser acionado automaticamente quando o médico analisa um exame em que há algo errado. “As expectativas têm um efeito forte sobre a percepção visual. Frequentemente nossa cognição perde alvos que não são coisas comuns”, diz Jeremy Wolfe, Ph.D em oftalmologia e radiologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
O estudo sistemático desse tipo de erro faz com que médicos criem uma série de procedimentos para evitá-los. Mas será que cada um de nós consegue aprender com os erros mais triviais? Em boa parte das vezes, não. É só pensar no que os pesquisadores chamam de “problema da cerveja na geladeira”. Você pode procurar a latinha na prateleira em que sempre a deixa. Se ela foi mudada de lugar, você pode ficar um tempão procurando algo que está bem debaixo do seu nariz, ainda que fora do local de hábito. “Você não procura o objeto em si, mas os padrões que estão armazenados no seu cérebro”, diz Wolfe. Essa tendência a encaixar o mundo em padrões já conhecidos é responsável pela chamada cegueira de mudança. Algumas informações visuais são sumariamente ignoradas simplesmente porque não temos como lidar com tudo o que vemos ao mesmo tempo. “Nosso cérebro recebe milhares de instintos a todo momento, precisamos ignorar muitos para desenvolver nossa cognição. Se você ficar atento aos estímulos que vêm do pé, da mão, de todos os lugares, não consegue ter foco”, afirma Barbara Tversky, Ph.D em psicologia e professora da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
DIGA-ME COM QUEM ANDAS
Os padrões guardados em nossa mente podem também mudar o conteúdo do que vemos. Um dos maiores aprendizados da “errologia” é que nossa percepção não depende só dos sentidos. Há algumas décadas, cientistas cognitivos vem demonstrando que criamos “estereótipos” mentais que mudam nossa percepção. Se alguém lhe apresenta uma pessoa dizendo que é um caminhoneiro, por exemplo, você tende a achar que essa pessoa é mais pesada do que se lhe dissessem que é um dançarino, constatou-se. Em estudos que começaram em 2005, o Ph.D em psiquiatria e neurociência Gregory Berns, da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, colocou na mesma sala quatro atores fingindo ser voluntários e um único voluntário real. Deu a todos a tarefa de comparar formas geométricas simples e dizer se eram iguais. Os atores davam a resposta incorreta antes de o voluntário falar, tentando induzi-lo ao erro. Funcionou. Quando os voluntários estavam sozinhos, acertavam 90% das respostas. Quando acompanhados pelo atores, acertavam apenas 50%.
Um scanner ligado à mente dos pesquisados durante o teste mostrou que, conforme os atores iam emitindo opiniões erradas, áreas relacionadas à percepção visual no cérebro do voluntário alteravam padrões seu funcionamento. “É como se a imagem real e a da imaginação (criada quando você ouve as opi-niões) se misturassem”, sugere Berns. O nazista Joseph Goebbels não estava errado. Uma mentira contada diversas vezes sobre algo pode, portanto, mudar nossa opinião sobre isso. E até criar no cérebro um padrão que muda a maneira como enxergamos a realidade. “Não é apenas uma analogia, as opiniões de outros literalmente alteram a nossa percepção e o processamento de informações na mente”, diz Berns. Para cientistas sociais, esse fenômeno da contaminação de opiniões também pode ser atribuído à vontade de ser aceito. “Há uma dificuldade em ser diferente. Em pesquisas de mercado, por exemplo, os entrevistados tendem a repetir a resposta dada por outras pessoas anteriormente”, afirma Francirosy Ferreira, doutora em antropologia pela Universidade de São Paulo.
REESCREVENDO O PASSADO
O alemão Ulric Neisser guardou bem na memória o dia 7 de dezembro de 1941. Ele tinha 13 anos e morava nos Estados Unidos quando o porto de Pearl Habor foi atacado pelos japoneses na Segunda Guerra. Durante décadas, podia recordar claramente o momento em que o jogo de beisebol que escutava no rádio foi interrompido para anunciar o bombardeio. Quarenta anos depois, já com diploma de doutorado em ciência cognitiva por Harvard, Neisser percebeu que havia algo estranho com essa lembrança: as temporadas de beisebol nunca foram jogadas em dezembro. Era impossível que aquela recordação, tão viva, fosse verdadeira. A descoberta fez o pesquisador se transformar em um dos pioneiros a estudar memórias falsas.
Quanto mais fraca a recordação, maior a chance de usarmos informações que nada têm a ver com ela para interpretar o que aconteceu. “Em vez de simplesmente lembrar o que ocorreu, preenchemos as lacunas das recordações usando padrões cerebrais já armazenados”, diz a psicóloga Barbara Tversky. O mecanismo funciona para dar sentido ao que está sendo rememorado em determinado contexto. Nossa memória é parcial — e pode ser modificada de acordo com o momento em que a retomamos. A produtora de TV Bruna Pellegrini, de 28 anos, percebeu esse tipo de engano recentemente. Filha de um médico de pronto-socorro, ela teve sarna quando criança. A doença, todos os amigos de Bruna sabiam, foi transmitida pelo pai, que havia sido contagiado no hospital. Há cerca de dois meses, ela contou essa história para o namorado na frente da família e foi interrompida por uma gargalhada. “Meu pai perguntou de onde eu tinha tirado isso. Disse que peguei a sarna na escola, de um coleguinha, e que ele nunca havia contraído a doença. Fiquei pasma. Tinha certeza absoluta, contei essa história durante 20 anos.”
Essas memórias falsas são estudadas por dezenas de especialistas para evitar um erro particularmente cruel. De acordo com a ONG Innocence Project, há pelo menos 175 pessoas condenadas por engano nos Estados Unidos por conta de memórias falsas. São casos como o de Ronald Cotton, que cumpriu 11 anos de prisão por um estupro que não cometeu. Ele só foi solto depois que um exame de DNA provou que a vítima, que havia identificado Cotton duas vezes como o agressor, estava errada. “Uma impressão falsa pode ser incorporada pela pessoa num momento de tensão. Consciente disso, a polícia hoje trabalha para evitar que isso aconteça”, diz Barbara Tversky, que já deu dois pareceres em julgamentos invalidando testemunhos que poderiam estar viciados por memórias inventadas ou distorcidas.
Um experimento com estudantes universitários de Ohio, nos Estados Unidos, mostrou que, quando tinham de recordar as notas do colégio, imaginavam sempre um desempenho melhor do que de fato haviam alcançado. A nota A teve 89% de lembrança contra apenas 23% da nota D. “Isso explica por que apostadores continuam na jogatina, mesmo após grandes perdas. Na memória deles, suas perdas geralmente são bem menores do que a realidade mostra”, diz Joseph Hallinan.
esqueci a senha
Você pode até não identificar lembranças que foram distorcidas com o tempo, mas certamente a memória já lhe faltou em algum momento que precisava. De acordo com jornal New York Times, a cada semana pelo menos mil leitores esquecem seus códigos para acessar o conteúdo on-line. A culpa, em boa parte dos casos, é do contexto (ou da falta dele). Quando a senha não remete a nada conhecido, a memorização é mais difícil. Vale o mesmo princípio da cerveja na geladeira: se o que tentamos lembrar não se encaixa bem nos protótipos formados pelas repetições cotidianas, a chance de esquecer aumenta.
Que o diga o cirurgião-dentista Thomas Paschoarelli, de 24 anos, de São Paulo. Famoso entre os amigos por sua capacidade de esquecer, ele um dia apagou da memória que havia ido de carro encontrar os colegas. E voltou a pé para casa. “No dia seguinte, meu pai me pediu o carro e não o encontrou na garagem. Tinha ficado na frente do bar em que eu estive na noite anterior. Como nunca ia de carro para lá, na minha cabeça fazia sentido voltar a pé”, diz Paschoarelli. Isso também explica por que, embora sejamos particularmente bons em reconhecer rostos, esquecemos de nomes. “Não só nomes, mas o formato da mão ou outras partes do corpo. Não há um sentido prévio para que a gente guarde esse tipo de lembrança”, afirma Martin Cammarota, pesquisador do Centro de Memória da PUC do Rio Grande do Sul. Da mesma forma como seleciona os estímulos aos quais dará atenção, o cérebro seleciona as lembranças que serão guardadas e prioriza o que é essencial.
ERROS EMOCIONAIS
Outra fonte de enganos e falhas em nosso comportamento está ligada à anatomia cerebral, por assim dizer. A mesma região do cérebro que responde pela percepção e pela atenção, o córtex pré-frontal, também está envolvida no processamento de emoções. Por conta disso, a compreensão do mundo e a propensão a errar e aprender estão intimamente ligadas ao que sentimos. A estudante de medicina Cibele Matsuura, de 26 anos, descobriu isso da pior forma. Sempre entre as melhores alunas da classe no ensino médio, ela chegou a prestar vestibular como treineira no 2º colegial e teria passado com os pontos que conseguiu. Entretanto, no ano seguinte, seus pais perderam o emprego, ela terminou o namoro e sua mãe se mudou para trabalhar no Japão. O resultado é que não passou na prova para entrar da faculdade — nem nos quatro anos seguintes. “Até o 2º colegial, a minha menor nota era 9. Mas tive um choque emocional e aquilo me desestabilizava na hora da prova, dava branco. Eu queria lembrar de alguma coisa, mas não conseguia”, conta a estudante, que fez tratamento com psicólogo antes de passar na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP).
Nos casos de muita ansiedade, esse “branco” é comum. “Ocorre uma liberação significativa de neurotransmissores, como adrenalina e cortisol, que podem afetar profundamente nossa capacidade de atenção e de cognição seletiva”, afirma Leonardo Ferreira Almada, Ph.D em neurociência afetiva e professor da Universidade Federal de Goiás. Segundo o especialista, essa confusão cerebral ocorre porque nosso organismo passou por um processo evolutivo para identificar situações de perigo, de luta ou de fuga. Em um contexto de batalha em que aparece a ansiedade, faria sentido inundar o cérebro com esse tipo de substâncias para ficar alerta. Agora, se isso acontece numa situação em que é preciso usar o raciocínio ou relembrar, o cérebro falha.
Em alguns casos, esse tipo de apagão, que nos torna irracionais por instantes, está ligado a fatores genéticos. É o que os especialistas sintetizam como cegamento do indivíduo. A pessoa perde a capacidade de controle racional da situação e, quase inevitavelmente, erra. É o que sente a jornalista Camila Brunelli, de 27 anos, quando passa por um de seus acessos de explosão, que já resultaram em agressão ao namorado e escândalo público. “Meus sentidos desaparecem, passo por cima do que tiver na frente e sempre acabo fazendo algo que não queria”, diz a paulistana, que passou a tomar antidepressivos para se controlar. Esse problema “é tão biológico como ter propensão à hipertensão”, diz Almada.
PREVENIR ERROS
Todos esses avanços no conhecimento de nossas falhas levantam uma questão: é possível fazer com que cessem? O consenso entre os cientistas é que não há como pôr um fim a isso, uma vez que o erro está intrinsicamente ligado à nossa capacidade de aprender rápido, por palpites que provavelmente (mas nem sempre) estão certos. Entretanto, estudos de ponta mostram que podemos prever quando tipos simples de falhas ocorrem. Junto com outros neurocientistas, o alemão Markus Ullsperger conduziu pesquisas (a última delas neste ano) que analisaran ondas cerebrais das pessoas e conseguiram prever quando elas iriam falhar em atividades monótonas, como digitar um texto, por exemplo. “Identificamos redes neuronais relacionadas a essas ações. Quase 30 segundos antes de a pessoa cometer um erro, a atividade nessas redes cai, enquanto em outras partes do cérebro, relacionadas ao relaxamento, a atividade aumenta”, diz Ullsperger. Ainda não há uma aplicação prática para essas conclusões. “Seria possível identificar quando um controlador de vôo vai errar e retirá-lo da atividade nesse momento”, diz o diz o pesquisador. “Mas precisaríamos de scanners analisando suas ondas cerebrais, o que não parece muito viável num futuro próximo.”
Se não dá para eliminar a falha, é possível tomar algumas precauções para que ela não aconteça. Ou entender que nossa mente não é 100% confiável na hora de tomar decisões ou bater o martelo sobre qualquer assunto. Um pouco de humildade ajuda. Uma pesquisa com mais de 2 mil gerentes de diversas empresas revelou que 99% deles têm um nível de confiança em seu conhecimento acima daquilo que realmente sabem. De acordo com o autor, o holandês Paul Schoemaker, Ph.D em estudos da decisão humana e professor da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, esse engano tem muitas razões. Além da tendência a esquecer erros do passado, quanto mais informações reunimos sobre algum assunto, mais certos estamos do nosso conhecimento naquele campo. Além disso, o hábito cada vez mais comum de desempenhar muitas tarefas ao mesmo tempo aumenta nossa chance de erro. O professor de Harvard Daniel Gilbert, Ph.D em psicologia cognitiva, mostrou recentemente que ser interrompido logo após a aquisição de uma informação pode nos levar a formar essas impressões falsas.
Introduzir no cotidiano ações simples, como listas de tarefas ou usar um bloquinho de anotações também ajuda a depender menos da memória e, consequentemente, a errar menos (veja quadro abaixo). “Com checklists de perguntas obrigatórias de médicos a pacientes, hospitais americanos conseguiram diminuir o erro em até 47%”, comenta Hallinan. Para o psicólogo e autor do best-seller Positivamente Irracional, Dan Ariely, errar menos tem conexão com a capacidade de evitar situações em que as emoções podem nos confundir. “Em um certo estado emocional, temos diferentes prioridades e desejos rápidos que precisamos cumprir, como quando vamos ao supermercado com fome”, diz Ariely.
Reconhecer que as falhas fazem parte do aprendizado também nos ajuda a lidar com elas. Ou, ao menos, aceitá-las como um mal necessário à evolução pessoal em vez de buscar a perfeição constante. Passamos a vida acreditando estarmos certos a respeito de tudo, de convicções intelectuais a julgamentos sobre outras pessoas, por mais absurdo que isso possa parecer quando refletimos a respeito, diz a autora do termo “errologia”, Katryn Schulz. “Não é o caso de parar de errar, mas de admitir que está errado. Sem sentir culpa por isso.”
Publicação Revista Galileu
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