quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Desamparo Aprendido

O desamparo aprendido (learned helplessness effect) foi proposto como modelo animal de depressão há quase duas décadas (Seligman, 1975) sendo desde então bastante utilizado em diferentes tipos de pesquisa (Overmier & Hellhammer, 1988). Embora o estudo do desamparo tenha se originado de investigações voltadas para a análise de interações entre contingências respondentes e operantes (Maier, 1989), a partir da sua associação com a depressão ele passou a ser amplamente utilizado como um modelo para o teste de drogas e alterações bioquímicas, ficando a análise funcional desse comportamento relegada a segundo plano. Conforme discutiremos mais adiante, esse abandono da análise funcional do desamparo reduziu o potencial de contribuição desses estudos para a compreensão do comportamento em geral, e da possível similaridade do desamparo com a depressão humana.O estudo do desamparo se destaca pela análise da história passada como um evento crítico na determinação do comportamento presente. Na maioria dos estudos com animais, o desamparo tem sido caracterizado pela dificuldade de aprendizagem operante apresentada por sujeitos submetidos previamente a eventos incontroláveis (não-contingentes). Via de regra, esses eventos correspondem a estímulos aversivos (geralmente choques elétricos) cuja ocorrência independe do comportamento do sujeito. A dificuldade em aprender tem sido avaliada comparando-se o comportamento desses sujeitos frente a contingências operantes (principalmente de fuga ou esquiva) com o comportamento de sujeitos previamente submetidos a choques controláveis ou a nenhum choque: nessa comparação, maiores latências das respostas de fuga/esquiva, ou a não aprendizagem dessas respostas, caracteriza o desamparo.Num experimento protótipo, três grupos de animais são colocados individualmente em caixas experimentais idênticas onde permanecem pelo tempo de uma sessão, durante a qual dois deles recebem choques provenientes de uma mesma fonte e um terceiro não recebe choques. Da dupla tratada com choques, apenas um animal pode desligá-los emitindo uma resposta previamente selecionada, controlando dessa maneira a duração dos choques para si e para o seu parceiro, para o qual os choques são incontroláveis. Portanto, essa tríade permite que se analise tanto os efeitos dos choques em si como os efeitos da possibilidade (ou não) de controle sobre os mesmos. Vinte e quatro horas após essa sessão, todos os animais são submetidos a uma contingência de fuga ou esquiva. O resultado padrão é uma maior latência de fuga/esquiva apresentada pelos animais submetidos aos choques incontroláveis, sendo que tanto os animais expostos aos choques controláveis como os não submetidos aos choques não diferem entre si. Em função desses resultados, a incontrolabilidade dos choques, e não os choques em si, vem sendo apresentada como a variável crítica para a ocorrência desse efeito comportamental uma vez que não se observa a dificuldade de aprendizagem pelos sujeitos expostos aos choques controláveis (Overmier & Seligman, 1967; Seligman & Maier, 1967).Diferentes formulações teóricas foram apresentadas para explicar o desamparo, sendo que a maioria delas propõe que a experiência com os choques incontroláveis tem como efeito principal tornar o sujeito menos ativo. Essa inatividade pode ser aprendida através de contingências acidentais supostamente presentes na condição de incontrolabilidade (Bracewell & Black, 1974; Glazer & Weiss, 1976; Levis, 1976), ou pode ser decorrente da depleção de alguns neurotransmissores cerebrais que reduziria a atividade motora do sujeito (Anisman, lrwing & Sklar, 1979; Weiss, Glazer & Pohorecky, 1976; Weiss, Glazer, Pohorecky, Brick & Miller, 1975). Aprendida ou imposta bioquimicamente, a inatividade teria como conseqüência dificultar a inicializacão da resposta de teste, reduzindo o contato do sujeito com a contingência operante.Em suma, essas hipóteses sugerem que a dificuldade de aprendizagem operante observada nesses estudos é meramente um subproduto da baixa atividade locomotora dos animais e não um processo de aprendizagem em si.Entretanto, a hipótese que ganhou maior projeção na análise desse fenômeno não atribui à inatividade um papel crítico. Segundo alguns autores, os indivíduos submetidos à incontrolabilidade aprendem que os eventos do meio ocorrem independentemente do seu comportamento e essa aprendizagem interfere na aprendizagem oposta de fuga ou esquiva (Maier & Seligman, 1976; Seligman, Maier & Solomon, 1971).Essa hipótese recebeu o mesmo nome do fenômeno que se propõe a explicar (learned helplessness hypothesis) o que gera muitas vezes confusão entre o fenômeno e a sua explicação. Apesar dessa mistura indesejável, esta é a única formulação teórica que analisa o desamparo diretamente como um processo de aprendizagem associativa e não como subproduto de outros processos, análise essa que tem se revelado mais consistente com os dados experimentais que a proposta de inatividade (Maier & Seligman, 1976; Maier, 1989). É também a hipótese do desamparo aprendido que justifica a proposição desse fenômeno comportamental como um modelo de depressão humana (Overmier & Helhammer, 1988; Seligman, 1975).O desamparo aprendido foi inicialmente sugerido como modelo de depressão reativa ou exógena devido às semelhanças de sintomatologia, etiologia, cura e prevenção (Seligman, 1975). Embora essa proposta tenha sido feita poucos anos após o primeiro relato de desamparo com animais, pode-se dizer que os trabalhos experimentais que a seguiram trouxeram uma grande quantidade de informações que, de uma maneira geral, sustentam a sua credibilidade como um dos melhores modelos de depressão em uso, embora não exista um consenso sobre que tipo de depressão é mimetizada pelos animais desamparados. A favor do desamparo mimetizar a depressão reativa existe, além do fator desencadeante ambiental, o fato de que o comportamento pode ser revertido forçando-se o sujeito a emitir a resposta de fuga o que, segundo alguns autores, poderia ser análogo a intervenções psicossociais tipo psicoterapia (Seligman, Maier & Geer, 1968; Seligman, Rosellini & Kozak, 1975). Entretanto a sua sensibilidade diferencial a tratamento com drogas antidepressivas (Sherman, Sacquitne & Petty, 1982) aponta na direção da depressão endógena uma vez que se relata que a depressão reativa responde pouco ao tratamento farmacológico (Graeff, 1989). Da mesma maneira, outras características do animal desamparado - tais como passividade, baixa atividade locomotora, piora no desempenho mantido por contingências de reforçamento positivo, redução de comportamentos agressivos, perda de apetite e elevação dos níveis de corticosteroides - também são freqüentemente associados à sintomatologia da depressão endógena ou à fase depressiva da PMD. Portanto, a afirmação de que o desamparo mimetiza a depressão exógena, bem aceita nos trabalhos iniciais, é hoje olhada com cautela.Essa dificuldade de se determinar o tipo de depressão que é mimetizado pelo desamparo torna-se pouco relevante frente à tendência crescente de se considerar que mesmo em humanos nem sempre é possível se fazer uma distinção exata dos diferentes subtipos de depressão. Mais relevante parece ser a análise das similaridades freqüentemente observadas entre os animais desamparados e diferentes tipos de pacientes deprimidos. Entre elas observa-se nos animais desamparados, além das características comportamentais já citadas, a depleção dos neurotransmissores noradrenalina (NA) e serotonina (5-HT) (Anisman, lrwing & Sklar, 1979; Weiss e cols., 1975; Weiss, Glazer & Pohorecky, 1976), coincidente com as principais teorias sobre a bioquímica da depressão (Graeff, 1989). Diferentes trabalhos têm demonstrado que drogas agonistas de NA e 5-HT são efetivas para impedir o desamparo em animais (Graeff, Hunziker & Graeff, 1989; Sherman, Sacquitne & Petty, 1982), enquanto antagonistas desses neurotransmissores simulam o desamparo (Anisman & Zacharko, 1982). Nesse sentido, o efeito obtido com a imipramina, que é um dos antidepressivos mais utilizados clinicamente, pode ser um argumento a favor da analogia entre desamparo e depressão (Petty & Sherman, 1979). Outro exemplo de características dos animais desamparados que coincidem com as de pacientes deprimidos é a imuno-supressão (Laudendlager, Ryan, Drugan, Hyson & Maier, 1983; Mormede, Dantzer, Michaud, Kelley & Moa’, 1988).Se esse conjunto de resultados sugere para alguns a validação do desamparo aprendido como modelo de depressão, para outros ele é insuficiente. Segundo Willner (1986, 1991), a proposta do desamparo como modelo de depressão baseia-se em três asserções que são controvertidas: 1) os animais submetidos aos eventos aversivos incontroláveis tornam-se desamparados em função da aprendizagem de independência entre seu comportamento e os eventos do meio; 2) pessoas submetidas à incontrolabilidade desenvolvem uma aprendizagem similar, tornando-se desamparadas; 3) o desamparo (ou a crença na independência entre comportamento e eventos do meio) é o sintoma central da depressão em humanos. Para Willner, a primeira asserção só se sustenta na hipótese do desamparo aprendido, sendo contestada pelas demais hipóteses explicativas que apontam a inatividade como a variável crítica; a segunda asserção baseia-se na teoria do desamparo reformulada para humanos (Abranson, Seligman & Teasdale, 1978) onde a variável crítica passa a ser a atribuição que o indivíduo faz das suas falhas, não bastando a simples experiência com a incontrolabilidade, o que torna praticamente impossível seu teste com animais; por fim, a terceira asserção fica comprometida por resultados experimentais que sugerem que nem sempre a atribuição depressiva implica numa maior probabilidade de depressão. Apesar dessa argumentação de Willner ser bastante criteriosa, ela pode ser questionada, ao menos em pane, pelo fato dele recorrer às hipóteses da inatividade, as quais têm sido cada vez mais descartadas como explicações convincentes do desamparo. O que se pode dizer é que no atual estágio de investigação predomina na literatura a idéia de que o desamparo tem sido um modelo comportamental bastante útil no estudo experimental da depressão.Apesar disso, a análise da maioria dos trabalhos publicados sobre desamparo aprendido revela uma surpreendente falta de rigor tanto conceitual (na classificação do efeito em si) como metodológica (nos procedimentos empregados para a sua produção). O uso do desamparo como um mero modelo, sem uma análise funcional do comportamento estudado, tem gerado um grande número de trabalhos cujos processos comportamentais chamados de "desamparo" dificilmente poderiam ser considerados equivalentes. Por exemplo, apesar do desamparo ser definido como a dificuldade ou falha de aprendizagem instrumental em função da experiência prévia com eventos aversivos incontroláveis, a maior pane dos trabalhos relatados não leva em conta esse aspecto de aprendizagem: a diferença de latência de fuga e/ou esquiva entre os grupos não encobre o fato de que os animais não submetidos aos choques incontroláveis freqüentemente não apresentam padrão de aprendizagem (Alloy & Bersh, 1979; Jackson, Maier & Rapaport, 1978, experimento lA; Maier & Jackson, 1977; Maier & Testa, 1975; Seligman, Rosellini & Kozak, 1975, experimento 2). Ou seja, se o desamparo é por definição uma interferência num processo de aprendizagem operante em função de uma história passada específica, o mínimo a se esperar é que essa aprendizagem seja claramente observada em animais que não tiveram tal história. Sem essa demonstração, os comportamentos observados não podem ser chamados de desamparo.A falta de rigor conceitual e metodológico tem gerado resultados que levam a equívocos na análise teórica do fenômeno. Como exemplo disso, pode-se citar dois conjuntos de resultados que geraram problemas na validação e interpretação teórica do fenômeno, e posteriormente se revelaram fruto da imprecisão metodológica: 1) a dificuldade de replicação do desamparo com ratos (os trabalhos iniciais foram com cães), que sugeriu por algum tempo a sua baixa generalidade como processo básico entre espécies, e 2) o fato do desamparo não ser observado após 48 horas da experiência com a incontrolabilidade (Overmier & Seligman, 1967; Weiss e cols., 1992), o que dificultava sua análise como um fenômeno decorrente de processos associativos, ou mesmo da sua equivalência à depressão humana uma vez que o diagnóstico de depressão do DSM-III requer que a sintomatologia permaneça pelo menos durante duas semanas (Willner, 1991). Hoje sabe-se que o desamparo ocorre tanto em ratos como nas mais diferentes espécies (Overmier & Hellhammer, 1988), após diferentes intervalos da experiência com a incontrolabilidade (por exemplo, Damiani, Costa, Machado & Hunziker, 1992).As primeiras replicações com ratos foram obtidas quando se utilizou como contingência de fuga o esquema de reforçamento em FR2 para a resposta de correr na shuttlebox (Maier & Testa, 1975) e em FR3 para a resposta de pressão à barra (Seligman, Rosellini & Kozak, 1975). Ambas as contingências foram propostas em substituição à contingência de FRI na shuttlebox, empregada inicialmente por ser análoga à utilizada com cães, porém sem sucesso com ratos. Embora esses pesquisadores tenham adaptado a contingência de fuga para os ratos considerando as diferenças entre as espécies, é curioso notar que a "solução" apresentada por eles não levou em conta o requisito mínimo de demonstrar que os animais ingênuos aprendem a resposta de fuga: ambas as contingências produzem, nos animais ingênuos, latências constantes ou progressivamente maiores ao longo da sessão de fuga, o que é o oposto do esperado nesse processo de aprendizagem. Nesses trabalhos, o fato dos animais submetidos aos choques incontroláveis terem apresentado latências mais altas que os sujeitos ingênuos foi considerado suficiente para caracterizar o desamparo. Essa imprecisão de medida do processo de aprendizagem operante está igualmente pressente nos trabalhos que investigaram a ocorrência do desamparo após 48 horas desde os choques incontroláveis, tornando pouco elucidativos os resultados a esse respeito (Maier & Testa, 1975; Seligman Rosellini & Kozak, 1975). Apesar disso, essas contingências de fuga e/ou esquiva continuam sendo adotadas pela maioria dos pesquisadores do desamparo (ver, por exemplo, Maier, 1989).A análise da inadequação desses procedimentos experimentais motivou uma série de investigações estabelecendo contingências mais precisas, tendo sido obtidos resultados sistemáticos de desamparo com ratos em condições onde os animais ingênuos apresentaram um típico padrão de aprendizagem de fuga. Basicamente, foi estabelecida uma contingência de fuga onde a possibilidade de interação entre contingências operantes e respondentes, conflitantes entre si, foram minimizadas. Também foi reduzida a probabilidade inicial da resposta de fuga e aumentada a quantidade de feedback sobre essa resposta (ver análise de Hunziker, 1981). Usando-se o procedimento básico gerado por esses experimentos, foram obtidos resultados algumas vezes destoantes da literatura da área, porém mais consistentes com a análise do processo de aprendizagem em estudo: 1) o desamparo foi observado igualmente após 24 ou 168 horas (ou 7 dias) dos choques incontroláveis (Damiani e cols., 1992); 2) obteve-se igual nível de desamparo em ratos machos e fêmeas (Hunziker & Damiani, 1992), em contraposição a relatos de que fêmeas não desenvolvem o desamparo aprendido, ou o desenvolvem menos intensamente (Navarro e cols., 1984; Steenbergen, Heinsbrock, van Haaren & van de Poll, 1989); 3) o uso de sinalização pós-choques incontroláveis, semelhante à descrita por Volpicelli, Ulm, Altenor e Seligman (1984) como suficiente para impedir o aparecimento do desamparo, não produziu esse efeito (Damiani & Hunziker, 1992); 4) uma única administração de naloxona (Hunziker, 1992) ou de imipramina (Graeff, 1991; Hunziker, Buonomano & Moura, 1986) impediu o aparecimento do desamparo, contrariando outros trabalhos que descreveram a necessidade de tratamento crônico para obter esse resultado (Hemingway & Reigle, 1987; Petty & Sherman, 1979). Pelo fato de que todos esses trabalhos mostram, sem exceção, padrões de aprendizagem de fuga pelos sujeitos ingênuos e latências significantemente mais elevadas emitidas pelos sujeitos submetidos previamente aos choques incontroláveis, pode-se assegurar a análise de um processo de aprendizagem instrumental. Por outro lado, com os procedimentos normalmente adotados é mais provável que se esteja medindo a atividade motora eliciada pelos choques e não um processo associativo (Maier & Testa, 1975). Nesse caso, os dois conjuntos de trabalhos não seriam diretamente comparáveis por estarem investigando processos distintos.Portanto, parece ser indispensável que o desafio de se estabelecerem modelos animais de psicopatologias seja acompanhado de uma constante e rigorosa análise dos processos comportamentais envolvidos. A falta dessa análise gera o uso do comportamento como um mero instrumento de teste como se ele não fosse uma complexa interação entre o organismo e o ambiente, o que é falso. Nunca é demais lembrar que um instrumento equivocado gera, necessariamente, resultados pouco confiáveis. Assim, mais importante do que a resposta à pergunta do título desse trabalho é a constatação de que ainda há muito a ser investigado sobre a complexidade das variáveis responsáveis pelo desamparo aprendido. A questão teórica subjacente a esses estudos continua sendo de grande relevância para a análise do comportamento, e o delineamento proposto oferece um instrumental adequado para estudos rigorosos sobre as variáveis das quais o comportamento é função. Se esses estudos somarem evidências para a análise das similaridades do desamparo com a depressão humana, tanto melhor para a compreensão dessa psicopatologia. Contudo, sem esse rigor metodológico corre-se o risco de análises superficiais e, consequentemente, equivocadas. O que é, no mínimo, um atraso para a ciência.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Árvore da Vida - Um Monumento à Vida

O grande feito deste “A Árvore da Vida” é lidar com temas existenciais sem alienar religiosos ou ateus. Escrito e dirigido por Terrence Malick, o longa retrata quão magnífica e terrível a vida pode ser, fazendo isso em diversos níveis.
O mais presente deles é a luta interna de seu personagem central, Jack (Sean Penn), amargurado filho de um casal com ideologias completamente diferentes. A trágica morte do irmão mais jovem do protagonista, aos 19 anos, marcou aquela família para sempre, com este trauma ainda se fazendo presente muitos anos depois.
A escala da história contada por Malick é inacreditável, indo desde o Big Bang até os dias atuais. O cineasta cria uma narrativa única através de uma montagem não-linear. Algumas das elipses presentes em determinado ponto da produção avançam em centenas de milhares de anos, remetendo diretamente a “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick, cujo estilo cinematográfico é referenciado por diversas vezes durante a projeção, inclusive de modo bastante gráfico em uma determinada tomada.
As lacunas presentes na produção devem ser preenchidas pelas próprias experiências do público, com este sendo confrontado e desafiado por questionamentos a cada momento, com o longa nunca apresentando respostas fáceis. Estaria o milagre da vida nos magníficos e aterrorizantes eventos que fizeram com que seres tão diferentes existam em nosso mundo ou escondido nas nossas interações com o meio e com nós mesmos? E como aceitar a existência de um Deus que nos interpõe tantos dissabores e dificuldades?
Dentre tantas perguntas, Malick parece ter uma certeza: a capacidade de amar e de se assombrar da humanidade é o que define a beleza e a razão da existência desta. Destarte, seriam os percalços e destruições que ocorrem durante nosso período nesta esfera azul o preço a pagar por tais maravilhas, uma parte inerente da incrível aventura que é viver?
Nada retratado nos contemplativos e longos planos estabelecidos pelo diretor é por acaso, com a menção explícita ao livro de Jó se mostrando precisa. Aceitar acontecimentos negativos se torna difícil para aqueles que, instintivamente, visam uma noção egoísta de bem estar.
Neste ponto, surge o conflito entre a Mãe (Jessica Chastain) e o Pai (Brad Pitt) de Jack. Fincando este ponto da narrativa nos anos 1950 – a era do self-made men americano -, presenciamos o crescimento do pequeno Jack (Hunter McCracken), seu amor pelo irmão fadado à morte e sua evolução de criança inocente até o adulto sem alegria que vimos ao encontrá-lo pela primeira vez. As performances que o diretor extrai do elenco, principalmente do trio Pitt, Chastain e McCracken, são absolutamente arrebatadoras, com a dinâmica familiar sendo extremamente beneficiada pela química entre os atores.
A forma autoritária e dura com a qual Jack e seus irmãos são tratados pelo austero Pai esconde um amor palpável e um desejo de que seus filhos consigam ser donos de si mesmos, de suas existências, de seus sonhos. Tal ponto de vista é contrastado pelo carinho incondicional que os garotos recebem da Mãe, que absorve as dificuldades da vida de forma aparentemente passiva, sem entrar em conflito direto com seu esposo, jamais traindo sua natureza abnegada e bondosa, dotada de uma compaixão que lhe vem sem esforço.
O Pai é visto como uma figura relativamente ausente e, ao aparecer, notamos primariamente suas características menos agradáveis, com até mesmo sua paixão pela música se tornando uma fonte de ressentimento. Mesmo assim, o público jamais sente antipatia pela figura paterna exatamente por ser tangível o amor que este sente por seus filhos, ainda que o sentimento se manifeste de formas pouco carinhosas e nada complacentes. Notem que ele trabalha em uma fábrica, sempre lidando com elementos artificiais. Dono de várias patentes, o longa ressalta que o Pai é um inventor, um criador, deixando bastante clara esta metáfora em relação a Deus.
Enquanto isso, a Mãe é enquadrada por uma viés acolhedor, sempre em comunhão com seu meio, seja no seio do lar ou no verde da grama sobre a qual pisa com seus pés descalços. Suas interações com os filhos ocorrem de maneira leve, descontraída, com ela sempre banhada em uma luz que aparenta ser quente e acolhedora, tal como sua personalidade, dando-lhe um ar quase etéreo.
Mãe e Pai são vistos quase como partes de uma espécie de “santíssima trindade” para Jack que, aos poucos, vai conhecendo mais sobre si mesmo. Desta noção, há um novo questionamento: Pai, o pequeno Jack e Mãe representariam “Pai, Filho e Espírito Santo” ou  ”Superego, Ego e Id” para o protagonista? Repare que, a despeito do Jack adulto ser a alma conflituosa que nos leva nesta jornada, é pelo ponto de vista de sua versão jovem que enxergamos a lide interior do personagem, até a sua catarse final.
Contando com uma fotografia irretocável, ótimos efeitos especiais e embalado pela belíssima trilha sonora de Alexandre Desplat (reforçada por composições clássicas, tais como “Vltava”, de Bedřich Smetana), “A Árvore da Vida” é uma obra repleta de simbolismos e significados. Trata-se não apenas de um filme, mas do poderoso retrato de um artista sobre a própria natureza da vida. 




FONTE: Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Encontros e Desencontros


O filme foi totalmente rodado em Tóquio, uma alucinação em néon cravada na Terra do Sol Nascente. Uma nação de contrastes, onde tradição, ocidentalização e exageros convivem lado a lado. Bob Harris (Bill Murray) está lá para gravar uma propaganda de uísque, aproveitando seu restinho de fama como ator, badaladíssimo nos anos 70. Charlotte (Scarlett Johansson) acompanha o marido, um famoso fotógrafo de celebridades que está trabalhando com a imagem de uma banda de rock local.

Ambos estão milhares de quilômetros longe de casa, tristes, e nenhum dos dois consegue dormir com o fuso horário de 24 horas. Mais do que isso, não encontram suas próprias identidades. O problema, claro, não é o Japão. A história poderia ter sido rodada em Berlim, Madagascar ou São Paulo. Se, num primeiro momento, o filme parece o retrato fiel de uma cultura local, logo percebemos que Sofia Coppola faz a crônica da impessoalidade de um planeta globalizado.

Inicialmente, a insônia é o pretexto para as conversas de Bob e Charlotte, já que eles frequentemente encontram-se por acaso no bar do hotel em que estão hospedados. Em pouco tempo, porém, os novos amigos já estão circulando juntos pela exótica cidade. O começo pode até parecer algo saído de uma comédia romântica, mas Encontros e desencontros
 está longe de poder ser classificado assim. É uma história de amor, sem romance.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

24 Anos sem Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

Itabira do Mato Dentro (Itabira) MG
31/02/1902 - 17/08/1987


Época:
Modernismo (Segunda Geração)

 
Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato Dentro [Itabira] MG, 1902 - Rio de Janeiro RJ, 1987) formou-se em Farmácia, em 1925; no mesmo ano, fundava, com Emílio Moura e outros escritores mineiros, o periódico modernista A Revista. Em 1934 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde assumiu o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde, que ocuparia até 1945. Durante esse período, colaborou, como jornalista literário, para vários periódicos, principalmente o Correio da Manhã. Nos anos de 1950, passaria a dedicar-se cada vez mais integralmente à produção literária, publicando poesia, contos, crônicas, literatura infantil e traduções. Entre suas principais obras poéticas estão os livros Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940), A Rosa do Povo (1945), Claro Enigma (1951), Poemas (1959), Lição de Coisas (1962), Boitempo (1968), Corpo (1984), além dos póstumos Poesia Errante (1988), Poesia e Prosa (1992) e Farewell (1996). Drummond produziu uma das obras mais significativas da poesia brasileira do século XX. Forte criador de imagens, sua obra tematiza a vida e os acontecimentos do mundo a partir dos problemas pessoais, em versos que ora focalizam o indivíduo, a terra natal, a família e os amigos, ora os embates sociais, o questionamento da existência, e a própria poesia. 

Alguns Poemas:

As sem razões do amor 
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Quadrilha 
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.




Destruição 
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

 

Amy Winehouse - CLIPES OFICIAIS

 
 Back to Black

 
Love Is A Losing Game

 Rehab

 In My Bed 

 
 Just Friends

 You Know I'm No Good 
 
 
Stronger Than Me

 
Tears Dry On Their Own 


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

34 Anos da Morte de Elvis Presley

 Suspicious Mind

Elvis Aaron Presley nasceu sob circunstâncias muito pobres, em uma humilde casa na cidade de East Tupelo (East Tupelo seria agregada mais tarde à cidade de Tupelo, formando assim uma única cidade), Estado do Mississippi, no dia 8 de Janeiro de 1935 às 04h35h.
Elvis foi o sobrevivente de um difícil parto de gêmeos, aonde seu irmão idêntico Jesse Garon foi natimorto. Depois deste traumático parto, Gladys não pôde mais engravidar e ter filhos. Elvis viria a ser então o único filho do casal Gladys e Vernon.
Desde cedo, a mãe incutiu na cabeça do filho que quando um de dois gêmeos morre, o que sobrevive herda toda a força do que se foi. No respeito à crença da mãe, Elvis adotou a personalidade dos dois. Por outro lado, Elvis sempre acreditou que poderia se comunicar com seu irmão Jesse – e assim pensava fazê-lo (ou realmente o fez!) durante várias ocasiões até seus últimos dias de vida. Não raro, quando criança, Elvis ia até o pequeno túmulo de Jesse Garon em um cemitério de Tupelo e ficava ali sentado por horas “conversando” com seu irmão. Às vezes Elvis ia até um lago vizinho ao cemitério e conversava com seu reflexo, como se fosse com o próprio irmão.
Na verdade, Elvis foi uma criança muito solitária.
Na pequena cidade do interior dos EUA, ele aprendeu com a mãe e o pai a ser respeitoso sob todos os aspectos, independentemente da idade, origem étnica, sexual e/ou sócio-econômico-financeiros envolvidos.
Além da derrocada financeira de 1929 com a quebra da Bolsa de NY, que assolou o país - em seus primeiros anos de vida, Elvis cresceu em meio aos destroços de um furacão que devastou sua cidade no dia 5 de abril de 1936.
Esse triste fato ocasionou uma união entre brancos e negros, que deixaram de lado por algum tempo o conflito racial, tudo em prol da reconstrução da cidade. Vale lembrar que o Estado do Mississipi na época era o centro do racismo americano.
Em parte de sua primeira infância, Elvis esteve privado da figura de seu pai, preso em 1937, juntamente com o irmão de Gladys, por estelionato.
Somando-se a isso, a família foi despejada de sua moradia. Gladys e Elvis tiveram que se mudar e foram morar com os pais de Vernon por algum tempo. Vernon seria libertado no ano de 1941.
O vínculo entre filho e mãe a esta altura era algo muito forte e que fazia com que Elvis e Gladys fossem muito apegados um ao outro. Elvis tinha um amor incondicional por sua mãe. A morte precoce de sua mãe em 1958 o afetaria pelo resto de seus dias.
Desde seus primeiros anos de vida, Gladys e Vernon levavam o pequeno Elvis a freqüentar a Igreja da Assembléia de Deus – o que influenciou muito em sua formação pessoal e musical também.
Em 1945, aos 10 anos de idade, Elvis participou de um concurso de novos talentos na "Feira Mississippi-Alabama" que acontecia em Tupelo - e conquistou o segundo lugar, ganhando 5 dólares, mais ingressos para todas as diversões. Elvis, na ocasião, cantou “Old Shep”, canção que retrata o desespero de um menino pela perda de seu cão.
Em seu aniversário em Janeiro de 1946, Elvis desejava muito ganhar uma bicicleta, mas seus pais infelizmente não tinham recursos para comprá-la. Sua mãe então o convenceu a ganhar um violão ao invés da bicicleta – e este violão passou a ser sua companhia constante, inclusive na escola.
Elvis e a família se mudaram para Memphis, no Estado do Tennessee no dia 12 de setembro de 1948 em busca de uma vida mais promissora dentro de suas poucas condições. Ainda assim, a Família Presley morou por um bom tempo em condições precárias.
No período de 1948 até 1954, Elvis trabalhou em várias atividades – entre elas, lanterninha de cinema e motorista de caminhão – para ajudar no sustento da pequena família. Seus pais estavam sempre em constante atividade de trabalho, mas os recursos eram realmente escassos.
Apesar de tantas adversidades, todo o zelo e dedicação de sua mãe foram recompensados: Elvis concluiu seus estudos em 1953 pela Humes High School em Memphis.
Nas horas vagas, Elvis cantava e tocava seu violão e, eventualmente, arriscava alguns acordes ao piano. Elvis comprava suas roupas em lojas na Beale Street e já nestes anos, era conhecido como um jovem “diferente” dos de sua época, pelo estilo único que ele adotara: roupas excêntricas (como as dos negros) e cabelos mais longos para os padrões da época e costeletas.
Suas influências musicais foram tão mistas quanto era o seu talento: Elvis era muito ligado ao “pop’ da época (particularmente Dean Martin); à música country; à música gospel ouvida na igreja; ao R&B capturado na histórica "Beale Street" em Memphis - além de seu grande apreço pela música erudita - particularmente a ópera. Um de seus maiores ídolos era o tenor Mario Lanza e, naturalmente, cantores gospel como J.D. Sumner, seu preferido. Por coincidência anos mais tarde, JD Sumner e seu quarteto “The Stamps Quartet” viria a trabalhar com Elvis – e J.D. tornar-se-ia um de seus maiores amigos e confidentes, por quem Elvis teria um carinho e respeito como se J.D. fosse seu segundo pai.

A Morte de Elvis

Na noite de 15 de Agosto Elvis vai ao dentista por volta das 11 da noite, algo muito comum para ele. De madrugada ele volta a Graceland, joga um pouco de tênis e toca algumas canções ao piano, indo dormir por volta das quatro ou cinco horas da manhã do dia 16. Por volta das 10 horas Elvis teria levantado para ler no banheiro, segundo relatou Ginger Alden, que estava em sua companhia nesta noite.
O que aconteceu entre este horário até por volta das duas horas da tarde – horário em que Elvis foi encontrado por Ginger caído ao chão do banheiro - é um mistério. Ginger interfona para o andar de baixo da mansão e pede por socorro. Joe Esposito e Al Strada sobem correndo até a suíte. Mas ao virar o corpo de Elvis, Joe já sabia que era tarde demais. Elvis já estava morto. Vernon não acreditava que isso poderia ser verdade e insistiu para que Elvis fosse urgentemente removido para o Hospital. Seu médico particular, Dr. George Nichopoulos foi chamado às pressas e chegou à Graceland junto com a ambulância do Baptist Hospital que viera buscar Elvis. Embarcou na mesma ambulância na tentativa de fazer Elvis reviver através de vários procedimentos de ressuscitação entre Graceland e depois da chegada ao Hospital. Uma incrédula Lisa presencia toda aquela comoção sem entender muito bem o que estava de fato acontecendo com o seu pai – e em completo estado de choque, a primeira pessoa para quem ela telefona é Linda Thompson, que a esta altura residia em Los Angeles. Linda se emociona até os dias de hoje quando relembra este fatídico telefonema e sua tentativa de acalmar à distância, a filha de Elvis que chorava desesperada e repetia sem parar: “meu pai morreu, Linda, meu pai morreu!”.
À s 15:30hs do dia 16 de Agosto de 1977, Elvis Aron Presley foi declarado morto. Segundo laudos médicos, sua morte ocorreu provavelmente no final da manhã do dia 16, ali mesmo no banheiro de sua suíte em Graceland, na cidade de Memphis, no Tennessee, causada por colapso fulminante associado à disfunção cardíaca. Sua morte tão precoce surpreendeu o mundo, provocando comoção como poucas vezes fora vista em nossa cultura - inclusive no Brasil. Os fãs se aglomeravam aos milhares em frente à mansão. As linhas telefônicas de Memphis estavam tão congestionadas que a companhia telefônica pediu aos residentes para não usarem o telefone a não ser em caso de emergência. As floriculturas venderam todas as flores em estoque. Mais flores foram enviadas então, de outros estados americanos, para dar conta das infindáveis encomendas de arranjos florais.
Um devastado e apático Vernon pediu ao amigo J.D.Sumner que preparasse todos os detalhes do velório e enterro de seu filho, pois sabia que, pela proximidade que unia Elvis à J.D., certamente ele saberia o que agradaria ou não ao seu filho.
As companhias aéreas não tinham mais passagens disponíveis para Memphis. Os vôos saíam lotados de todas as partes dos Estados Unidos, por fãs que queriam prestar sua última homenagem a Elvis. Amigos e pessoas próximas a Elvis ligavam para Graceland e eram solicitados a evitarem comparecer no velório porque a situação era limítrofe.
O velório começou de forma privada na madrugada do dia 17, perdurando por todo o dia. A comoção do lado de fora de Graceland era enorme. Devido ao intenso calor do verão em Memphis e as circunstâncias em si, muitas pessoas passavam mal, desmaiavam e tinham que ser atendidas ali mesmo nos gramados da mansão. Vernon decidiu permitir que o velório fosse aberto aos fãs por um período de 4 horas aproximadamente, de forma que centenas dentre os milhares de fãs que ali estavam, organizaram-se em fila e puderam ver o seu eterno ídolo pela última vez.
Por volta das três da tarde do dia 18 de Agosto, a cerimônia para familiares e amigos mais próximos foi realizada, com canções gospel sendo cantadas pelos "Stamps Quartet" e por Kathy Westmoreland - ambos parte do grupo musical de Elvis na década de 70. Após a cerimônia todos foram levados até o cemitério em uma lenta procissão entre Graceland e o cemitério Forest Hill aonde o corpo de Elvis seria sepultado. Este cemitério fica na mesma Avenida de Graceland - Elvis Presley Boulevard – e é aonde já se encontrava sepultada sua mãe Gladys, desde 1958.
Algumas semanas após o sepultamento, houve uma tentativa por parte de três marginais de arrombarem o túmulo de Elvis para seqüestrar seu corpo e pedir resgate pelo mesmo. Felizmente tal fato foi evitado e os criminosos presos em tempo. Em função deste episódio, Vernon entrou com um pedido junto à Prefeitura de Memphis para que o corpo de seu filho pudesse ser removido do Cemitério para ser sepultado no “Meditation Garden”, espaço criado por Elvis nos anos 60 na propriedade de Graceland. Após muita polêmica, foi concedida em caráter excepcional tal permissão e em 02 de outubro de 1977 o corpo de Elvis retornaria a sua eterna morada: Graceland. O corpo de sua mãe Gladys também foi transferido de Forest Hill para o Meditation Garden e atualmente neste mesmo espaço, descansam Vernon, falecido em 1979, e a avó de Elvis, Minnie Mãe, que faleceu em 1980. Uma placa simbólica também foi colocada em memória de Jesse Garon, o irmão gêmeo natimorto de Elvis.
Mas para os fãs e apreciadores do artista que virou um ícone, a morte física de Elvis pouco importa. E para seus admiradores, enquanto houver desejo e emoção, Elvis Presley viverá.
Para se ter uma idéia, até Agosto de 1977, Elvis vendera 600 milhões de discos, entre 150 álbuns e “singles” lançados no decorrer de sua carreira. Atualmente sabe-se que este número supera a marca de um bilhão de exemplares - superior a qualquer outro artista, recorde absoluto, coroado com centenas de discos de ouro, platina e, mais recentemente, multi-platina.
Entre seus muitos prêmios, estão 14 indicações ao Grammy, com três premiações justíssimas principalmente se considerarmos os prêmios anteriormente não outorgados, possivelmente, por preconceito ao artista polêmico e revolucionário que Elvis foi. E segundo alguns, porque Elvis Presley foi um artista popular, um sujeito - desde sempre - à frente do seu tempo, inserido em uma engrenagem “sócio-histórico-cultural” bastante complexa.
• 1967 - Melhor Performance de Música Sacra - How Great Thou Art
• 1972 - Melhor Interpretação Inspirativa - He Touched Me
• 1974 - Melhor Interpretação Inspirativa - How Great Thou Art - do álbum "Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis"
Elvis fora durante toda a sua vida um ser místico ao extremo e a verdade é que as crenças do cantor eram tão reais para si mesmo, que curiosamente, os três Grammy’s arrebatados em sua carreira foram no gênero da música sacra, onde reconhecidamente ele passava todo o verdadeiro sentimento do homem, somado à técnica do artista.
E mais onze indicações:
• 1959 - Gravação do Ano - A Fool Such As I
• 1959 - Melhor Performance - A Big Hunk O’Love
• 1959 - Melhor Performance Rhythm & Blues - A Big Hunk O’Love
• 1960 - Gravação do Ano - Are You Lonesome Tonight?
• 1960 - Melhor Performance Vocal - Are You Lonesome Tonight?
• 1960 - Melhor Performance de um Artista Pop Solo - Are You Lonesome Tonight?
• 1960 - Melhor Álbum Masculino - G.I. Blues
• 1960 - Melhor Álbum de Trilha Sonora - G.I. Blues
• 1961 - Melhor Álbum de Trilha Sonora - Blue Hawaii
• 1968 - Melhor Performance Sacra - You'll Never Walk Alone
• 1978 - Melhor Performance Vocal Country - Softly As I Leave You


ADELE...Muito Bom


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sapho de Lesbos

Safo, Versos Mortais

Por volta de 612 a.c. Ilha de Lesbos / Grécia 






















































































































































































Safo, a maior poetisa lírica da Antigüidade é, provavelmente, também a primeira mulher a fazer poesia importante na história da cultura ocidental. Nasceu na ilha grega de Lesbos, por volta do ano de 612 a.C.

Pouco se sabe ao certo sobre esta mulher notável. Alguns a têm imaginado de uma beleza escultórica exuberante. Outros, como não muito bonita. Mas todos concordam que possuía um atrativo pessoal formidável e que, com seus belos olhos pretos, poderia até domar feras! Não é só esta, entretanto, a razão de sua fama. Filha de família rica, deixou cedo sua pequena cidade natal de Eresso, próxima à capital de Lesbos, Mitilene, onde estudou dança, retórica e poética, o que era, então, permitido só a mulheres da aristocracia. Mesmo de origem nobre, a bem pouco podia aspirar uma mulher nessa época fora dos trabalhos domésticos rotineiros. Mas Safo... era Safo! Uma mulher de fogo! Muito jovem já possuía grande notoriedade devido mais a seus encantos pessoais do que à sua arte. Ela mesma dizia ter "cabecinha oca" e "coração infantil", tinha uma conduta libertada de preconceitos e inibições.


Nessa época, Lesbos era governada pelo ditador Pítaco (o mesmo que seria depois incluído na lista dos Sete Sábios da Grécia). Safo, acusada de participar de uma conjuração contra o ditador, acabou sendo exilada na cidade de Pirra. A acusação foi, provavelmente, devido mais à moralidade de Pítaco (característica bastante comum entre os ditadores) do que à política, pois, de fato, Safo nunca dedicou-se à política. Nessa época de juventude, brilhava em Lesbos o jovem poeta Alceu, que pretendeu namorar Safo, sem sucesso. Por que não? Naturalmente essas coisas não têm explicação, mas poetisas não se casam com poetas. Fez-se famosa a resposta de Safo à carta amorosa de Alceu, em que este lamentava-se de que o pudor não lhe permitia dizer o que sentia: "Se tuas intenções, Alceu, fossem puras e nobres, e tua fala capaz de exprimi-las, o pudor não seria bastante a reprimi-las". Mas as falas sobre pudor, tanto de Alceu como de Safo são completamente hipócritas, pura literatura destinada ao público: nem Safo nem Alceu possuíam o menor recato!


Também Alceu foi exilado por Pítaco junto com muitos outros patrícios. Na sua geração, ele teria sido o maior poeta não fosse pela sua contemporânea Safo.


Ao seu retorno de Pirra, Safo não demorou a ser exilada de novo, desta vez na Sicília. Ali conheceu um riquíssimo industrial e, como as atuais divas se casam com milionários, Safo casou-se com ele. Este poderoso industrial cumpriu duplamente seus deveres de esposo com Safo, dando-lhe uma filha e, pouco depois, deixando-a viúva e rica.


Na sua volta a Lesbos, Safo diria: "necessito do luxo como do sol." Mas não permaneceu muito tempo na ociosidade e fundou um colégio para meninas da alta sociedade de Mitilene. Ali as instruía em música, poesia e dança, e as chamava de heteras, ou melhor, hetairas, que em grego significa companheiras.


Ao que parece, Safo era incomparável e inspirada mestra. Mas também inspirava amor às hetairas e aí Safo era grande mestra. Começaram então os boatos na cidade sobre atos e costumes adotados na grande escola. Sua hetaira favorita, chamada Átis, foi a primeira a ser tirada, iradamente, por seus pais. Tudo se desfez rapidamente e a escola acabou. Para Safo, esse foi um terrível golpe. Sobretudo a perda de Átis, por quem sentia paixão irrefreável. O que foi uma desgraça para Safo foi a faísca inicial que sublimou a sua poesia. Compôs o "Adeus a Átis", considerada até hoje como um dos mais perfeitos versos líricos de todos os tempos, que através dos séculos foi modelo de estilo pela singeleza e sobriedade da forma. Expressões originais de Safo, que chamou Átis de "doce e amargo tormento", foram usadas depois por poetas e namorados através dos séculos.


Segundo a lenda recolhida por Ovídio, na idade madura, Safo voltou a amar os homens. Existem aí duas versões, numa, apaixonada por um marinheiro chamado Faon, que não lhe correspondeu, suicidou-se pulando de um rochedo de Leuca. Na outra, Safo serenamente resignada com a sua sorte - segundo manuscrito achado no Egito - recusa um pedido de casamento: "Se meu peito ainda pudesse dar leite e meu ventre frutificasse, iria sem temor para um novo tálamo. Mas o tempo já gravou demasiadas rugas sobre minha pele e o amor já não me alcança mais com o açoite de suas deliciosas penas."


A moralidade e a hipocrisia têm condenado Safo durante 26 séculos. No século XI, teve a sua maior condenação: toda a sua obra, contida em nove volumes, foi queimada pela Igreja... Só em fins do século XIX dois arqueólogos ingleses descobriram, por acaso, em Oxorinco, sarcófagos envoltos em tiras de pergaminho, numa das quais eram legíveis uns seiscentos versos de Safo. Isso é tudo o que restou dela. Pouco, mas o bastante para confirmar o veredicto dos antigos: Safo foi a maior poetisa lírica da Antigüidade.


Tinha razão Platão quando ensinou: "Dizem que há nove musas, que falta de memória! Esqueceram a décima, Safo de Lesbos." E também tinha razão Sólon (que não era apreciador de poesia, talvez por ser a única atividade do espírito que não conseguiu dominar) quando, depois de ouvir seu neto recitar uma poesia de Safo, exclamou: "Agora poderei morrer em paz!"


Numa linha imortal que sobreviveu ao fogo da Igreja e aos séculos que tudo corroem, Safo disse: "Irremediavelmente, como à noite estrelada segue a rosada aurora, a morte segue todo o ser vivo até que finalmente o alcança..." E depois veio o silêncio, mas, nem o fogo, nem os séculos conseguiram apagar sua voz, nem esquecer seu nome: Safo, a divina hetaira! 

A uma mulher amada
 
Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.