A esquizo-análise é uma análise, sempre parcial e provisória, do processo de produção do mundo, através dos arranjamentos que incidem num certo contexto.
“Como um Arranjamento assegura a continuação de uma outro Arranjamento para ‘gerir’ uma situação dada? Como um Arranjamento analítico, ou pretendido tal, pode mascarar um outro? Como vários Arranjamentos entram em relação e o que advém daí? Com explorar, num contexto em aparência totalmente bloqueado, as potencialidades de constituição de novos Arranjamentos? Como ‘assistir’, se o caso se apresenta, as relações de produção, de proliferação e a micropolítica destes novos Arranjamentos?” (Guattari, op. cit., p. 30). Como isto marcha?
Esta tarefa criativa da esquizo-análise exige ousadia e sensibilidade à diferença: “desfamiliarizar, desedipianizar, descastrar, desfalicizar, desfazer teatro, sonho e fantasma, descodificar, desterritorializar — uma pavorosa curetagem, uma atividade malévola” (Deleuze e Guattari, op. cit., p. 458).
A esquizo-análise, pela cartografia, faz uma agrimensura dos acontecimentos, analisando-os no embate dos conceitos de maioria e de minoria. A maioria se erige como um padrão “em relação ao qual as outras quantidades, quaisquer que sejam, serão ditas menores” (Deleuze e Bene, 1990, p. 124). O território do estalão majoritário é animado por um modelo de poder no qual “de um pensamento se faz uma doutrina, de uma maneira de viver se faz uma cultura, de um acontecimento se faz a História” (Deleuze e Bene, op. cit., p. 97). Estabelecem-se relações de força que tanto mais estandartizam regras e modos quanto mais se faz sentir a fragilidade (ou mesmo a impotência) de um estado de coisas, de uma situação, de um discurso em se franquear ao debate e à contraposição. Compõe uma minoria o conjunto de elementos que, independentemente da quantidade, está excluído do padrão majoritário ou está, subsdiariamente, incluído nele. Há sempre riscos de uma minoria recair na maioria, ao refazer o padrão de poder, ao normalizar-se, ao fechar-se sobre si, ao guetificar-se, ao molarizar-se.
Fazer psicologia social, via esquizo-análise, é tornar-se minoria: é interceptar o processo de vida da comunidade para subtrair as homogeneizações e superar as estratificações do organismo, da significância e da subjetivação. O organismo, espaço-tempo marcado de arquitetura e ordem, se encarrega da objetividade, da eficiência, da acumulação, da hierarquia, da utilidade, para impedir corrupções. A significância faz passar apenas códigos interpretáveis, cerceando a criação e a livre circulação de signos, para impedir transgressões. A subjetivação recorta e fixa papéis distintos e complementares, para impedir errâncias. É preciso, então, aproveitar a variabilidade, a corrupção, a transversalidade, a transgressão, a heterogeneidade, a errância do mundo para impulsionar o próprio movimento de desterrritorialização da cultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário