quarta-feira, 25 de abril de 2012

Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo, Gestalt, Psicanálise, Humanismo, Psicologia Transpessoal e Psicologia Cognitiva


Definições:


Estruturalismo
Considera-se como fundador da psicologia moderna Wilhelm Wundt, por ter criado, em 1879, o primeiro laboratório de psicologia na universidade de LeipzigAlemanha. A psicologia se tornou uma ciência independente da filosofia graças a Wundt, nos finais do século XIX. Foi a partir deste acontecimento que se desenvolveram de forma sistemática as investigações em psicologia, através de vários autores que a esta ciência se dedicaram, construindo múltiplas escolas e teorias.
Wundt criou o que, mais tarde, seria chamado de Estruturalismo, por Edward Titchener; cujo objecto de estudo era a estrutura consciente da mente, as sensações. Segundo esta perspectiva, o objectivo da psicologia seria o estudo científico da Experiência Consciente através da Introspecção. Titchener levou a idéia da psicologia para os Estados Unidos da América, modificando-a em alguns pontos. As principais limitações do Estruturalismo residem no facto de a introspecção não ser um verdadeiro método científico incontestável e de esta corrente excluir a psicologia animal e infantil. Esta corrente foi extinta em meados do século XX.

Funcionalismo
O funcionalismo é o modelo que substitui o estruturalismo na evolução histórica da psicologia, sendo o seu principal impulsionador William James. O principal interesse desta corrente teórica residia na utilidade dos processos mentais para o organismo, nas suas constantes tentativas de se adaptar ao meio. O ambiente é um dos factores mais importantes no desenvolvimento. Os funcionalistasqueriam saber como a mente funcionava, e não como era estruturada.

Behaviorismo, a primeira potência
A maior escola de pensamento americana surgiu no início do século XX, sendo influenciada por teorias sobre o comportamento e fisiologia animal. A tradução da palavra inglesa behavior é "comportamento", portanto, o foco de estudo do comportamentismo ou comportamentalismo (título traduzido) é o comportamento observável, e o condicionamento é o método utilizado nesta escola. Foi fundada por John B. Watson (behaviorismo metodológico), que acreditava que o controle do ambiente de um indivíduo permitia desencadear qualquer tipo de comportamento desejável. Traz do funcionalismo a aplicação prática da psicologia; o seu foco está na aprendizagem. Erroneamente, muitos divulgam que através desta perspectiva não se pode estudar cientificamente os pensamentos, desejos e sentimentos, entretanto, o próprio Watson tem extensos trabalhos sobre pensamento e emoções humanas.
Foi influenciado, inicialmente, pelas teorias de Ivan Pavlov e Edward Thorndike. E, posteriormente, pelas teorias do operacionismo. Foi Burrhus Frederic Skinner o maior autor neocomportamentalista, levantando a tona seu condicionamento operante e a modificação do comportamento (Behaviorismo Radical).
No meio do século XX, vários autores escreveram sobre o pensamento e a cognição. Diziam fazer parte do comportamento este pensamento, estava sendo criada uma divisão no behaviorismo: a psicologia cognitiva. Alguns autores desta escola foram Albert BanduraJulian Rotter e Aaron Beck. Estes falavam que o comportamento pode ser entendido também a partir da cognição e que o aprendizado pode existir sem a necessidade de condicionamento em laboratório, mas pela observação e elaboração do que foi visualizado. É chamada de a primeira grande força da psicologia.

Gestalt, a psicologia da forma
Fundada dentro da filosofia por Max WertheimmerKurt Koffka e Wolfgan Koller , a gestalt traz novas perguntas e respostas para a psicologia. Ela se detém nos campos da percepção e na visão holísticado homem e do mundo. A palavra gestalt não tem uma traduçãoexata para o português, mas pode ser entendida como "forma", "formato", "configuração". Critica principalmente a psicologia de Wundt, que é chamada de psicologia do "tijolo e argamassa", pois vê a mente humana dividida em estruturas.
gestaltismo mais conhecido como psicologia da forma que surge na Alemanha, no incio do século XX. Em oposições clara a J. Watson, seus mais importantes representantes foram Max WertheimmerKurt Koffka e Wolfgan Koller. Seus estudos partiam da experiência imediata, utilizando como método a fenomenologia. Segundo esses estudiosos, os fenomenos da percepção, da memória e da afetividadeeram vivenciados sob forma de estruturas. Eles recusavam a idéia de Watson, para quem o comportamento era unicamente dependente do estimulo (relação conhecida como estímulo-resposta ou E-R), afirmando que a forma resultante de um processo de percepção era muito mais que a soma das partes. O gestaltismo trazia como preocupação central a necessidade de se relacionar a experiência imediata dos sujeitos com a natureza física e biológica e com o mundo dos valores socioculturais.
gestalt preocupa-se com o homem visto como um todo, e não como a soma das suas partes (o lema da gestalt é justamente este: "O todo é mais que a soma das suas partes"). No ano de 1951, Frederic S.Perls cria a teoria Gestalt-terapia, que contou com os colaboradores Laura Perls e Paul Goodman, com base na filosofia de Martin Buber, das terapias corporais de Reich, em filosofias orientais, na teoriaorganísmica de K. Goldstem, na teoria de campo de Kurt Lewin, no holismo e em outros.

Psicanálise
A psicanálise teve seus primórdios com Sigmund Freud (1856-1939) entre o fim do século XIX e início do século XX através dos estudos sobre a histeria, acompanhado primeiramente pelo seu mestre, Charcot. Este havia descoberto que a histeria era doença de caráterideogênico, ou seja, baseado nas idéias e não originada de distúrbios orgânicos, e portanto não era uma doença tipicamente feminina, do útero (Hysteron em grego significa "útero").
Também pode ser-lhe creditado a hipótese de que a histeria fosse efeito de uma dissimulação, uma vez que o sintoma poderia ser evocado e suprimido por força da sugestão ou da hipnose. Isso foi descoberto devido a sugestão hipnótica, pois pessoas que não apresentavam histeria, poderiam ser sugestionados a apresentar sintomas histéricos tais como a conversão. Freud, ficou impressionado com o método hipnótico e o estudo da histeria. Passou, então a praticar o método de Charcot, que mais tarde ganhou um diferencial, a catarse, estudado conjuntamente com seu colega Breuer. Com o livro dos dois, Estudos sobre a Histeria, foi fundado a psicanálise. O método hipnótico foi abandonado por Freud, dentre outros motivos, por apenas suprimir os sintomas sem que promovesse a cura, e também, como modo de atender a uma paciente (Fräulein Elizabeth), que havia lhe pedido para apenas falar, sem a hipnose. Foi denominada por ela a psicanálise como a "cura pela fala". Freud então foi modelando sua teoria, sendo caracterizada fundamentalmente por investigar o inconsciente, ganhando contornos da sexualidade, principalmente as pulsões da sexualidade infantil, tópico este polêmico para a sociedade da época. Cabe dizer que o termo sexualidade confunde-se até hoje em dia, no senso comum, com sexo e no entanto para Freud a sexualidade dá conta da organização do prazer e a construção psíquica dos meios para satisfazê-la.
Outro personagem importante da psicanálise é Carl G. Jung, primeiro presidente da sociedade psicanalítica. Com o avanço da teoria de Freud em cima da sexualidade infantil, Jung, que não concordava com o que Freud dizia acerca do assunto, rompe com o psicanalista e segue outro caminho, criando uma nova teoria, denominada psicologia analítica. A sua proposta foi de "dessexualizar" o ego. Mas Freud retifica o ex-colega, dizendo que "o ego possui várias naturezas das pulsões, mas a pulsão sexual é a que ganha mais investimento". Duvidaram que Freud tivesse "criado" o termo inconsciente, mas tal conceito foi feito anos antes, e Freud utilizou-se dele com outro sentido, encarregando-se de criar uma teoria toda em cima do termo: antigamente, inconsciente significava não-consciência e, na psicanálise, inconsciente significa uma outra ordem, com outras regras, um dos elementos do aparelhos psíquico, constituído por pensamentos, memórias e desejos que não se encontram ao nível consciente mas que exercem grande peso no comportamento. Este é o mérito de Freud. Após a morte de Freud, a psicanálise teve muitos membros que a cisionaram, criando obras chamadas neopsicanalíticas Anna Freud (filha de Sigmund Freud), Melanie Klein, Lacan, Bion, Winnicott etc.) ou outras teorias diferentes (Carl G. Jung, Alfred Adler, Erik Erikson, Carl Rogers etc..
A psicanálise hoje se apresenta de várias formas, que são a psicanálise ortodoxa, a psicanálise nova (ou neopsicanálise) e a psicologia de orientação analítica (utilizada não só por psicanalistas formados, mas também por psicólogos não especializados), todas com algumas peculiaridades.
É a segunda grande força de psicologia, e segundo o Conselho Federal de Psicologia Brasileiro  e demais CRPs, a psicanálise é aceita no meio acadêmico, porém só pode ser utilizada de forma integral com uma especialização, caso contrário deve-se utilizar da técnica de psicoterapia de orientação psicanalítica.

Humanismo
O enfoque da psicanálise no inconsciente, e seu determinismo, e o enfoque na observação apenas do comportamento, pelo behaviorismo, foram as críticas mais fortes dos novos movimentos de Psicologia surgidos no meio do século XX. Na verdade o humanismo não é uma escola de pensamento, mas sim um aglomerado de diversas correntes teóricas. Em comum elas têm o enfoque humanizador do aparelho psíquico, em outras palavras elas focalizam no homem como detentor de liberdade, escolha, sempre no presente. Traz da filosofia fenomenológico existencial um extenso gabarito de idéias. Foi fundada por Abraham Maslow, porém a sua história começa muito tempo antes.
A Gestalt foi agregada ao humanismo pela sua visão holística do homem, sendo importante campo da Psicologia, na forma de Gestalt-Terapia. Mas foi Carl Rogers, um psicanalista americano, um dos maiores exponenciais da obra humanista. Ele, depois de anos a finco praticando psicanálise, notou que seu estilo de terapia se diferenciara muito da terapia psicanalítica. Ele utilizava outros métodos, como a fala livre, com poucas intervenções, e o aspecto do sentimento, tanto do paciente, como do terapeuta. Deu-se conta de que o paciente era detentor de seu tratamento, portanto não era passivo, como passa a idéia de paciente, denominando então este como cliente. Era a terapia centrada no cliente ( ou na pessoa) Seus métodos foram usados nos mais vastos campos do conhecimento humano, como nas aulas centradas nos alunos, etc. Apresentou três conceitos, que seriam agregados posteriormente para toda a Psicologia. Estes eram a congruência (ser o que se sente, sem mentir para si e para os outros), a empatia (capacidade de sentir o que o outro quer dizer, e de entender seu sentimento), e a aceitação incondicional (aceitar o outro como este é, em seus defeitos, angústias, etc.). Erik Erikson, também psicanalista, trouxe seu estudo sobre as oito fases psicossociais, em detrimento às quatro fases psicossexuais de Freud, onde todas as fases eram interdependentes, e não necessariamente determinam as fases posteriores; para ele o homem sempre irá se desenvolver, não parando na primeira infância. Viktor Frankl, com sua logoterapia, veio a acrescentar os aspectos da existência humana, e do sentido da vida, onde um homem, quando sente um este vazio de sentido na vida, busca auxílio pois não se sente confortável em viver sem sentido ou ideais. Diz também que eventos muito fortes podem adiantar a busca pelo sentido da vida. Tais eventos podem criar desconforto, trauma intenso, mas podem criar um aspecto de fortaleza no indivíduo.

Pirâmide de Maslow. 
Maslow trouxe, para a psicologia que havia fundado, estes autores, agregando, ainda seus estudos sobre a pirâmide de necessidades humanas. Para ele, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que se precise saciar as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo para as necessidades sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades de auto-estima. Se uma destas necessidades não está saciada, há a incongruência. Quando todas estiverem de acordo, abre-se espaço para a auto-realização, que é um aspecto de felicidade do indivíduo. Esta é hoje a terceira grande força dentro da psicologia.

Psicologia Transpessoal
Maslow estava insatisfeito com sua própria teoria, dizendo que faltava-lhe o facto de o homem ser um ser espiritualizado. Para ele, era importante a espiritualidade e as características da consciência alterada, teoria de Stanislav Grof. Criou então, com ajuda de outros psicólogos, uma teoria que era abrangente nesse aspecto. Incorporou idéias de Carl G. Jung, que era um estudioso dos aspectos transcendentais da consciência, na Psicologia transpessoal. Esta fala de vários níveis de consciência, que vão do mais obscuro, (a sombra), até o mais alto grau de consciência, o transpessoal. Por ter seu foco na consciência e seus aspectos, foi também chamada de psicologia da consciência. Seu estudo é recente e traz características que necessitam de um aprofundamento maior.

Psicologia Cognitiva
Tendo em seus primórdios, entre outras, as teorias de Jean Piaget, a Psicologia Cognitiva é um dos mais recentes ramos da investigação em psicologia, tendo se desenvolvido como uma área separada desde os fins dos anos 1950 e princípios dos anos 1960, diferenciando-se das influências behavioristas da época por afirmar a existência de estados mentais internos como: o desejo; as motivações (consubstanciação do desejo, consciente ou inconsciente, na conduta dos indivíduos); e as crenças (sistema de suposições desejadas, consciente ou inconscientemente, individual ou coletivamente).
O termo "Psicologia Cognitiva" começou a ser usado com a publicação do livro Cognitive Psychology de Ulrich Neisser em 1967. Desde então, o paradigma dominante na área foi o do processamento de informação, modelo defendido por Broadbent. Neste quadro de pensamento, considera-se que os processos mentais são comparáveis a software a ser executado num computador que neste caso seria o cérebro. As teorias do processamento de informação têm como base noções como: entrada; representação; computação ou processamento e saídas.
A partir dos estudos em Psicologia Cognitiva, desenvolveu-se a Terapia Cognitiva (ou Cognitivo-comportamental), por Aaron Beck, ex-psicanalista norte-americano. Sua ênfase está na investigação e remodelamento das crenças, esquemas e pensamentos disfuncionais que gerariam os distúrbios psicológicos.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Esquizo-análise

A esquizo-análise é uma análise, sempre parcial e provisória, do processo de produção do mundo, através dos arranjamentos que incidem num certo contexto.
     “Que é um arranjamento? É uma multiplicidade que comporta muito de termos heterogêneos e que estabelece ligações, relações entre eles, através das idades, dos sexos, dos reinos — das naturezas diferentes. Por isto, a única unidade do arranjamento é de co-funcionamento: é uma simbiose, uma ‘simpatia’. O importante jamais são filiações, mas as alianças e as ligas; não são as hereditariedades, as descendências, mas os contágios, as epidemias, o vento” (Deleuze e Parnet, 1996, p. 84).
       "A esquizo-análise será, pois, essencialmente excentrada em relações às práticas ‘psi’ profissionalizadas, com suas corporações, sociedades, escolas, iniciações didáticas, ‘passe’, etc. (...) Não somente não haverá protocolo esquizo-analítico normalizado, mas uma regra fundamental, uma regra antiregra imporá uma constante recolocação em questão dos Arranjamentos analisadores em função de seus efeitos de retroalimentação {feed-back} sobre os dados analíticos” (Guattari, 1989, p. 28 e 30).
       A esquizo-análise se colocará questões e tarefas.
      “Como um Arranjamento assegura a continuação de uma outro Arranjamento para ‘gerir’ uma situação dada? Como um Arranjamento analítico, ou pretendido tal, pode mascarar um outro? Como vários Arranjamentos entram em relação e o que advém daí? Com explorar, num contexto em aparência totalmente bloqueado, as potencialidades de constituição de novos Arranjamentos? Como ‘assistir’, se o caso se apresenta, as relações de produção, de proliferação e a micropolítica destes novos Arranjamentos?” (Guattari, op. cit., p. 30). Como isto marcha?
       “A esquizo-análise renuncia a toda interpretação, porque ela renuncia deliberadamente a descobrir um material inconsciente: o inconsciente nada quer dizer. Em revanche, o inconsciente faz máquinas, que são as do desejo e das quais a esquizo-análise descobre o uso e o funcionamento na imanência às máquinas sociais. O inconsciente nada diz, ele maquina. Ele não é expressivo ou representativo, mas [ é ] produtivo” (Deleuze e Guattari, 1995, p. 213).
        “Assim, a caminhada esquizo-analítica jamais se limitará a uma interpretação de ‘dados’; ela terá interesse, muito mais fundamentalmente, no ‘Dando’, nos Arranjamentos que promovem a concatenação dos afetos de sentido e dos efeitos pragmáticos” (Guattari, 1989, p. 30).
        Cabe à esquizo-análise “descobrir sob o abatimento familiar a natureza dos investimentos sociais do inconsciente” (Deleuze e Guattari, 1995, p. 323) e substituir o teatro da representação pela usina da produção desejante, desembaraçando-se do familialismo. E, principalmente, acolher o “cumprimento {realização} do processo {processus} da produção desejante, este processo que se encontra sempre já cumprido enquanto procede e tanto quanto procede”. “Cumprir o processo, não pará-lo, não fazê-lo girar no vazio, não lhe dar uma finalidade” é engendrar uma nova terra por desterritorialização. “Jamais se irá demasiado longe na desterritorialização, na descodificação dos fluxos”.
          Esta tarefa criativa da esquizo-análise exige ousadia e sensibilidade à diferença: “desfamiliarizar, desedipianizar, descastrar, desfalicizar, desfazer teatro, sonho e fantasma, descodificar, desterritorializar — uma pavorosa curetagem, uma atividade malévola” (Deleuze e Guattari, op. cit., p. 458).
         A esquizo-análise, pela cartografia, faz uma agrimensura dos acontecimentos, analisando-os no embate dos conceitos de maioria e de minoria. A maioria se erige como um padrão “em relação ao qual as outras quantidades, quaisquer que sejam, serão ditas menores” (Deleuze e Bene, 1990, p. 124). O território do estalão majoritário é animado por um modelo de poder no qual “de um pensamento se faz uma doutrina, de uma maneira de viver se faz uma cultura, de um acontecimento se faz a História” (Deleuze e Bene, op. cit., p. 97). Estabelecem-se relações de força que tanto mais estandartizam regras e modos quanto mais se faz sentir a fragilidade (ou mesmo a impotência) de um estado de coisas, de uma situação, de um discurso em se franquear ao debate e à contraposição. Compõe uma minoria o conjunto de elementos que, independentemente da quantidade, está excluído do padrão majoritário ou está, subsdiariamente, incluído nele. Há sempre riscos de uma minoria recair na maioria, ao refazer o padrão de poder, ao normalizar-se, ao fechar-se sobre si, ao guetificar-se, ao molarizar-se.
         Fazer psicologia social, via esquizo-análise, é tornar-se minoria: é interceptar o processo de vida da comunidade para subtrair as homogeneizações e superar as estratificações do organismo, da significância e da subjetivação. O organismo, espaço-tempo marcado de arquitetura e ordem, se encarrega da objetividade, da eficiência, da acumulação, da hierarquia, da utilidade, para impedir corrupções. A significância faz passar apenas códigos interpretáveis, cerceando a criação e a livre circulação de signos, para impedir transgressões. A subjetivação recorta e fixa papéis distintos e complementares, para impedir errâncias. É preciso, então, aproveitar a variabilidade, a corrupção, a transversalidade, a transgressão, a heterogeneidade, a errância do mundo para impulsionar o próprio movimento de desterrritorialização da cultura.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Individualismo não é Egoísmo

Nossos ouvidos recebem de forma negativa a palavra individualismo porque a confundimos com egoísmo, um vício que condenamos mesmo quando vive dentro de nós.
Porém não é bom aceitar como verdade absoluta tudo o que aprendemos na infância. Convém refletir a respeito daquilo que pensamos saber.
O individualismo está relacionado à individualidade, ou seja, à capacidade de se reconhecer como unidade, ainda que integrada a um contexto maior – a família, o país, o planeta. Somos indivíduos com, uma parte única em um universo composto de pessoas diferentes que partilham interesses comuns.
O individualismo considera legítimo – o que não significa, em hipótese alguma, prejudicar os direitos daqueles que nos cercam. O individualista tem uma noção clara dos seus limites. Sem essa consciência da fronteira que separa os dos seus, ele não conseguiria se distinguir do todo e perderia seu individualismo.
Nossa sociedade valoriza intensas trocas de sentimentos e idolatra as pessoas que se doam e incondicionalmente. Então, o individualista, que não se entusiasma em trocar, é visto com reservas.
Trata-se de alguém que não espera muito dos outros e prefere dar pouco de si. Esse comportamento não é egoísmo, embora as pessoas cujas expectativas ele o vejam dessa forma.
Egoístas são os que defendem profundas trocas de experiências entre as pessoas , já que exigem muito e dão pouco. Como não sobrevivem sem isso, acusam de egoísmo quem não aceita as regras desse jogo de dar muito e receber pouco.
O alvo em geral são os individualistas, que não se prestam a esse tipo de. Aos egoístas não resta outra saída a não ser se aproveitar dos generosos – aqueles que não se importam em receber muito menos do que seu empenho em doar mereceria.
O egoísta diz “eu me amo” e gosta de apregoar que consegue suprir as próprias necessidades e ficar bem consigo mesmo. O objetivo desse discurso é que sente de sua total dependência – de atenções, de proteção, de companhia.
Se fosse independente de fato, não precisaria tirar vantagem dos relacionamentos. Na verdade, gostaria de ser individualista, de ter força suficiente para bastar a si mesmo, de agüentar com dignidade as dores inerentes à vida, de poder escolher entre trocar ou não experiências.
O individualista possui essa força, enquanto o egoísta o imita exibindo uma energia que .
Por isso, o egoísta se apropria daquilo que: precisa guardar uma cota extra para suprir sua incompetência em lidar com a vida.Faz isso não porque seja mau-caráter, mas porque é um fraco. Conhece suas limitações emocionais e padece dedos que são verdadeiramente independentes. Tenta incorporar suas atitudes e até convence muita gente de sua independência. Mas não engana a si mesmo.

Por Flávio Gikovati